I Leitura - Isaías 50,4-7
II Leitura - Felipenses 2,6-11
Salmo - 21
Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo Marcos 14,1-15,47
Faltavam dois dias para a Páscoa e para a festa dos Ázimos. Os sumos sacerdotes e os mestres da Lei procuravam um meio de prender Jesus à traição, para matá-lo.
Eles diziam: 'Não durante a festa, para que não haja um tumulto no meio do povo.
Jesus estava em Betânia, na casa de Simão, o leproso. Quando estava à mesa, veio uma mulher com um vaso de alabastro cheio de perfume de nardo puro, muito caro. Ela quebrou o vaso e derramou o perfume na cabeça de Jesus.
Alguns que estavam ali ficaram indignados e comentavam: 'Por que este desperdício de perfume?
Ele poderia ser vendido por mais de trezentas moedas de prata, que seriam dadas aos pobres.' E criticavam fortemente a mulher.
Mas Jesus lhes disse: 'Deixai-a em paz! Por que aborrecê-la? Ela praticou uma boa ação para comigo.
Pobres sempre tereis convosco e quando quiserdes podeis fazer-lhes o bem. Quanto a mim não me tereis para sempre.
Ela fez o que podia: derramou perfume em meu corpo, preparando-o para a sepultura.
Em verdade vos digo, em qualquer parte que o Evangelho for pregado, em todo o mundo, será contado o que ela fez, como lembrança do seu gesto.
Judas Iscariotes, um dos doze, foi ter com os sumos sacerdotes para entregar-lhes Jesus.
Eles ficaram muito contentes quando ouviram isso, e prometeram dar-lhe dinheiro. Então, Judas começou a procurar uma boa oportunidade para entregar Jesus. Onde está a sala em que vou comer a Páscoa com os meus discípulos?
No primeiro dia dos ázimos, quando se imolava o cordeiro pascal, os discípulos disseram a Jesus: 'Onde queres que façamos os preparativos para comeres a Páscoa?'
Jesus enviou então dois dos seus discípulos e lhes disse: 'Ide à cidade. Um homem carregando um jarro de água virá ao vosso encontro. Segui-o
e dizei ao dono da casa em que ele entrar: 'O Mestre manda dizer: onde está a sala em que vou comer a Páscoa com os meus discípulos?'
Então ele vos mostrará, no andar de cima, uma grande sala, arrumada com almofadas. Ali fareis os preparativos para nós!'
Os discípulos saíram e foram à cidade. Encontraram tudo como Jesus havia dito, e prepararam a Páscoa. Um de vós, que come comigo, vai me trair.'
Ao cair da tarde, Jesus foi com os doze.
Enquanto estavam à mesa comendo, Jesus disse: 'Em verdade vos digo, um de vós, que come comigo, vai me trair.'
Os discípulos começaram a ficar tristes e perguntaram a Jesus, um após outro: 'Acaso serei eu?'
Jesus lhes disse: 'É um dos doze, que se serve comigo do mesmo prato.
O Filho do Homem segue seu caminho, conforme está escrito sobre ele. Ai, porém, daquele que trair o Filho do Homem! Melhor seria que nunca tivesse nascido!'
Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, tendo pronunciado a bênção, partiu-o e entregou-lhes, dizendo:
'Tomai, isto é o meu corpo.'
'Tomai, isto é o meu corpo.'
Em seguida, tomou o cálice, deu graças, entregou-lhes e todos beberam dele.
Jesus lhes disse: 'Isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos.
Em verdade vos digo, não beberei mais do fruto da videira, até o dia em que beberei o vinho novo no Reino de Deus.'...
Comentário - José Raimundo Oliva
Pelo grande destaque dado as memórias da Paixão, nos quatro evangelhos, pode-se pensar que elas teriam se constituído nas primeiras tradições veiculadas sobre Jesus, surgidas entre as primitivas comunidades cristãs. Percebe-se nelas a influência da tradicional celebração da Páscoa do Primeiro Testamento, com a imolação do cordeiro, de acordo com a prática sacrifical, templária e sacerdotal, projetada na tardia narrativa do êxodo, aplicada a morte de Jesus. O caráter sacrifical atribuído a morte de Jesus na cruz está na raiz da tradição e da espiritualidade que consideram o sofrimento como meritório e redentor. Na realidade a morte de Jesus foi um imenso crime praticado por aqueles que, usufruindo do poder, procuram destruir qualquer emprenho de luta pela justiça, libertação e promoção da vida. A vida de Jesus é um testemunho do amor que tudo transforma e gera a vida que permanece para sempre.
O evangelho de Marcos, bem como o de Mateus e o de João, introduz as narrativas da Paixão com duas narrativas de ceias. Uma primeira ceia na qual Jesus é ungido por uma mulher e outra, a última ceia, com os
discípulos. A imagem da refeição, do banquete é tradicional como representativa da comunhão do povo com Deus. O início do ministério de Jesus, no evangelho de João, se faz em uma festa de núpcias, onde se come e se bebe. Várias são as parábolas em que Jesus compara o Reino de Deus a um banquete celestial.
Na ceia em Betânia, o bálsamo perfumado com o qual Jesus é ungido por uma mulher é a expressão do amor que vivifica. É este amor que deve ser dirigido aos pobres, com os quais Jesus se identifica. "A mim não tereis sempre... pobres tendes sempre convosco". A Boa-Nova caracteriza-se pela prática do amor solidário aos pobres, excluídos e ameaçados em sua vida. O que a mulher fez deve ser perpetuado: "em qualquer parte do mundo em que se proclamar esta Boa-Nova, se recordará em sua honra o que ela fez".
Em sua última ceia com os discípulos, Jesus celebra a vida e o amor, na partilha. A proximidade da Paixão não significa o fim do projeto de Deus, mas o inicio de uma nova etapa, com o ministério e o testemunho dos discípulos de Jesus. O dom da comunicação e do amor supera as sombras da morte . A alegria de viver, de servir, de partilhar, de solidarizar-se com os irmãos alimenta a chama da vida e tem o sabor da eternidade.
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