Por Karine Rizzardi*
Imagine se o pé olhasse para a mão e dissesse:
- “Você não é como eu. Se não fosse por mim, ninguém ficaria em pé.”
- “E se não fosse por mim, ninguém pinçaria os objetos e as pessoas teriam dificuldade de comer, disse a mão.”
- “E se não fosse por mim, ninguém pinçaria os objetos e as pessoas teriam dificuldade de comer, disse a mão.”
A cada atendimento clínico que faço, eu comprovo o quanto a raiz dos problemas das pessoas nasce da comparação entre elas, principalmente no período da infância. Ser comparado com seus irmãos, parentes, vizinhos e amigos, pode deixar marcas de uma identidade com resquícios de inferioridade, insegurança e até timidez.
Agir dessa forma pode esmagar as peculiaridades de cada um, podendo até estancar as habilidades natas que cada pessoa tem ao nascer. Assim como a mão não deve ser comparada com o pé (porque ambos precisam ser valorizados em suas funções), de igual forma nós também não devemos comparar os filhos, pois isso pode representar um assassinato a suas personalidades.
- “Termina de comer o que está no seu prato. Olha lá a Valentina! Ela já está quase acabando”.
- “Você viu que a filha do vizinho vai tentar medicina na faculdade?”
- “Você viu como a Amanda é educada? Você deveria fazer igual”.
- “Essa aí puxou o pai. Eles dois tem o gênio bem parecido.”
- “Você viu que a filha do vizinho vai tentar medicina na faculdade?”
- “Você viu como a Amanda é educada? Você deveria fazer igual”.
- “Essa aí puxou o pai. Eles dois tem o gênio bem parecido.”
O excesso da comparação pode produzir justamente o oposto daquilo que os pais querem. Se você compara o fato de um filho ser estudioso e o outro ser mais preguiçoso, é muito provável que o preguiçoso fique com mais preguiça ainda.
Comparações, comparações e mais comparações. Por certo, nossos filhos terão que lidar com isso durante a vida, independente de ser algo positivo ou não. Ocorre que, quando se é adulto, a maturidade emocional já está formada e o impacto da comparação pode não interferir na sua auto imagem, mas enquanto se é pequeno (principalmente até os 7 anos), o filho precisa saber que é único e que não tem que ser comparado com ninguém. Eu sou eu, você é você e ponto final.
Infelizmente isto é algo tão cristalizado na nossa cultura, que a competitividade entre os irmãos pode nascer do próprio comentário dos pais. Sem perceber, os adultos igualmente assim procedem quando se comparam com seus amigos no ato de observar quem tem o melhor carro, quem se destaca mais profissionalmente ou qual amiga é mais bonita. É a comparação e a inveja que alimentam a competitividade e muitas pessoas não sabem lidar bem com isso, justamente pela imagem emocional que ficou registrada na infância.
Quando se educa os filhos respeitando as individualidades de cada um, você contribuirá para que este seja um adulto mais seguro profissionalmente, com menos complexos psicológicos, com boa dose de iniciativa e sem problemas de inferioridade, pois dentro dele ficou carimbado: “Eu não sou melhor e nem pior – apenas diferente dos outros”.
*A autora é psicóloga especialista de casais e família.
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