// Estar com Deus: dezembro 2014

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

QUEM FORAM OS REIS MAGOS?


Um ótimo apanhado do blog Ciência confirma a Igreja, publicado por Luis Dufaur.

Um antigo documento conservado nos Arquivos Vaticanos lança uma certa luz, embora indireta e sujeita a caução, sobre a pessoa dos Reis Magos que foram adorar o Menino Jesus na Gruta de Belém. A informação foi veiculada por muitos órgãos de imprensa e páginas da Internet. O documento é conhecido como “A Revelação dos Magos”. Provavelmente seja algum “apócrifo”, nome dado aos livros não incluídos na Bíblia. Portanto, não são “canônicos”, apesar de poderem ser de algum autor sagrado.

Entretanto, uma extrema ponderação em apurar a verdade faz com que a Igreja não recuse em bloco esses “apócrifos” e reconheça que pode haver neles elementos históricos ou outros que ajudem à Fé. Por isso mesmo, o Vaticano conserva a maior coleção mundial desses “apócrifos”, e os põe à disposição dos críticos de todas as religiões que queiram estudá-los.

A Igreja não tem medo de que possa sair qualquer coisa que desdoure a integridade e a santidade da Bíblia. Antes bem, deseja ardentemente encontrar qualquer dado que possa ajudar a melhor compreendê-la. 

O apócrifo “A Revelação dos Magos” aparenta ser um relato de primeira mão da viagem dos Reis do Oriente para homenagear o Filho de Deus. Só recentemente foi traduzido do siríaco antigo. O mérito é do Dr. Brent Landau, professor de Estudos Religiosos da Universidade de Oklahoma, EUA, que dedicou dois anos para decifrar o frágil manuscrito.

Trata-se de uma cópia feita no século VIII a partir de algum original perdido que, por sua vez, fora transcrito meio milênio antes. Portanto, a fonte original desse apócrifo dos Reis Magos remonta a menos de um século depois do Evangelho de São Mateus. O documento levanta questões em extremo interessantes: quem foram ao certo, os Reis Magos? Foram três? Quais eram seus nomes? De onde vieram? Por quê? 

Vejamos primeiro o que nos diz a única fonte digna de fé religiosa, o Evangelho de São Mateus: Capítulo 2, Versos 1 e subsequentes. A narração de São Mateus contém tudo o que é necessário para a Fé. Mas com o beneplácito e a aprovação da Igreja a piedade popular acrescentou muitos outros pormenores, que foram transmitidos por tradição oral e que são aceitos sem contestação.
O que diz a Tradição sobre seu número, condição, proveniência e destino?

É aqui que entra o papel do grande São Beda, o Venerável (673-735), Doutor da Igreja e monge beneditino nas abadias de São Pedro e São Paulo em Wearmouth, e na de Jarrow, na Nortumbria, Inglaterra. São Beda é uma das máximas autoridades dos primeiros tempos da Idade Média pelo fato de ter recolhido relatos transmitidos oralmente pelos Apóstolos aos seus sucessores, e destes aos seguintes. São Beda é também considerado como fonte de primeira mão da história inglesa, sendo muito respeitado como historiador. SuaHistória Eclesiástica do Povo Inglês (Historia Ecclesiastica Gentis Anglorum) lhe rendeu o título de Pai da História Inglesa.

No tratado “Excerpta et Colletanea”, o Doutor da Igreja assim recolhe as tradições que chegaram até ele:

“Melquior era velho de setenta anos, de cabelos e barbas brancas, tendo partido de Ur, terra dos Caldeus. Gaspar era moço, de vinte anos, robusto e partira de uma distante região montanhosa, perto do Mar Cáspio. E Baltasar era mouro, de barba cerrada e com quarenta anos, partira do Golfo Pérsico, na Arábia Feliz”.

É, pois, São Beda quem por primeira vez escreveu o nome dos três. Nomes com significados precisos que nos ajudam a compreender suas personalidades. Gaspar significa “aquele que vai inspecionar”; Melquior quer dizer: “Meu Rei é Luz”, e Baltasar se traduz por “Deus manifesta o Rei”. Para São Beda – como para os demais Doutores da Igreja que falaram deles – os três representavam as três raças humanas existentes, em idades diferentes. Neste sentido, eles representavam os reis e os povos de todo o mundo.

Também seus presentes têm um significado simbólico. Melquior deu ao Menino Jesus ouro, o que na Antiguidade queria dizer reconhecimento da realeza, pois era presente reservado aos reis. Gaspar ofereceu-Lhe incenso (ou olíbano), em reconhecimento da divindade. Este presente era reservado aos sacerdotes. Por fim, Baltasar fez um tributo de mirra, em reconhecimento da humanidade. Mas como a mirra é símbolo de sofrimento, vêem-se nela preanunciadas as dores da Paixão redentora. A mirra era presente para um profeta. Era usada para embalsamar corpos e representava simbolicamente a imortalidade.

Desta maneira, temos o Menino Jesus reconhecido como Rei, Deus e Profeta pelas figuras que encarnavam toda a humanidade. Em coerência com essa visão, através da exegese podemos interpretar a chegada dos Reis Magos como o cumprimento da profecia de David:

“Os reis de Társis e das ilhas lhe trarão presentes, os reis da Arábia e de Sabá oferecer-lhe-ão seus dons. 11. Todos os reis hão de adorá-lo, hão de servi-lo todas as nações”. (Sl. 71, 10-11)

Alguns especularam que talvez pelo menos um deles veio da terra de Shir (não identificada nos mapas modernos), na antiga China. Em livro – escrito a título pessoal, Joseph Ratzinger (Papa Bento XVI) comenta que “a promessa contida nestes textos [N.R.: Salmo 72,10] estende a proveniência destes homens até ao extremo Ocidente (Tarsis, Tartessos em Espanha), mas a tradição desenvolveu posteriormente este anúncio da universalidade aos reinos de que eram soberanos, como reis dos três continentes então conhecidos: África, Ásia e Europa”, segundo informou “Religión Digital” de Espanha. A amplidão do leque de possibilidades geográficas fica patente neste comentário.

Tarsis ou Tartessos ficaria na Andaluzia, Espanha, especificamente em “algum lugar compreendido entre Cádiz, Huelva e Sevilha”. Segundo o “ABC” de Madri, os sevilhanos acham que se Melquior, Gaspar e Baltasar fossem andaluzes teriam se manifestado mais alegremente, teriam cantado “sevilhanas” e levado pandeiros. A reação popular suscita um amável sorriso.

O que foi depois dos Reis Magos?

De acordo com uma tradição acolhida por São João Crisóstomo, Padre da Igreja, os três Reis Magos foram posteriormente batizados pelo Apóstolo São Tomé e trabalharam muito pela expansão da Fé (Patrologia Grega, LVI, 644).  A fama de santidade dos Reis Magos chega até os nossos dias. Seus restos são venerados na nave central da Catedral de Colônia, em magnífica urna de ouro e de pedras preciosas que extasia os visitantes. As relíquias deles foram descobertas na Pérsia pela imperatriz Santa Helena e levadas à capital imperial Constantinopla. Depois foram transferidas a outra capital imperial – Milão –, até que foram guardadas definitivamente na Catedral de Colônia em 1163 (Acta SS., I, 323).

Por que eram "Magos"?

O nome “mago” era sinônimo de “sábio”. O tratamento dado a eles como grandes eruditos, prudentes e judiciosos, provinha do fato de os sacerdotes da Caldeia serem muito voltados para a consideração dos astros com uma sabedoria que surpreende até hoje. A eles devemos o início da ciência astronômica. Sem dúvida, seu caráter de “magos”, reconhecido pelo Evangelho de São Mateus, aponta para a área da civilização caldeia (cujo epicentro foi no atual Iraque, mas incluiu diversos países vizinhos, entre eles o Irã). 

Com a decadência moral, os “magos” caldeus viraram uma espécie de bruxos, divulgadores de toda espécie de superstições. Os Três Reis Magos teriam sido os últimos sacerdotes honrados daquele mundo pagão que aspiravam sinceramente conhecer o Salvador. Neste caso, foram exemplos arquetípicos do pagão de boa-fé que deseja conhecer a verdadeira religião, e que assim que a encontra adere a ela sem demoras nem restrições.

Foram "Reis"?

Discute-se também em que sentido podem ser chamados de “Reis”, pois não se lhes conhece a procedência e menos ainda a localização do reinado. Porém, na Antiguidade, os patriarcas, ou chefes de grandes clãs, ou grupos étnico-culturais, governavam com poderes próprios de um rei, sem terem esse título ou equivalente. E seu reinado se concentrava sobre sua hoste, por vezes nômade. São João Damasceno não recusava que eles fossem descendentes de Set, terceiro filho de Adão. E este pormenor nos leva de volta ao “apócrifo” do Vaticano.

A estrela que os guiou

O referido manuscrito estava na Biblioteca Vaticana havia pelo menos 250 anos, mas não se sabe mais nada de sua proveniência. Está escrito em siríaco, língua falada pelos primeiros cristãos da Síria e ainda hoje, bem como do Iraque e do Irã. O Prof. Landau acredita que no “apócrifo” entra muita imaginação. Mas, há uma muito longa descrição das supostas práticas, culto e rituais dos Reis Magos.

Feitos, pois, os devidos descontos no apócrifo, lemos nele que Set, terceiro filho de Adão, transmitiu uma profecia, talvez recebida de seu pai, de que uma estrela apareceria para sinalizar o nascimento de Deus encarnado num homem.

Prêmio a uma fidelidade de séculos

Gerações de Magos teriam aguardado durante milênios até a estrela aparecer. Mistérios da fidelidade! Milênios aguardando, gerações morrendo na esperança e transmitindo aos filhos o anúncio de um dia remoto em que o mundo receberia o Salvador!

Segundo o Prof. Landau, o “apócrifo” diz que a estrela no fim “transformou-se num pequeno ser luminoso de forma humana que foi Cristo, na gruta de Belém”. A afirmação não é procedente se a interpretarmos ao pé da letra. Mas, levando em conta o estilo altamente poético do Oriente, poderíamos supor que o brilho da estrela de Belém convergiu no Menino Jesus e desapareceu.

E, de fato, depois de encontrar o Menino Deus, os Magos não mais viram a estrela. Alertados por um anjo, voltaram por outro caminho às suas terras, como ensina o Evangelho de São Mateus, que não mais menciona a estrela no retorno.






domingo, 28 de dezembro de 2014

IMITAÇÃO DE CRISTO

Conselho do Dia
Este é o conselho que a Imitação de Cristo lhe dá para hoje:

Jesus: Filho se puseres tua paz em alguma pessoa, por conviver contigo e ser de teu parecer, achar-te-ás inconstante e embaraçado. Mas, se recorreres à verdade sempre viva e permanente, não te entristecerás pela ausência e morte de um amigo. Em mim se há de fundar o amor do amigo, e por mim se há de amar todo aquele que nesta vida te parecer bom e amável. Sem mim não vale nada, nem durará a amizade; nem é puro e verdadeiro o amor cujos laços eu não tenha dado. De tal modo deves estar morto para semelhantes afeições dos amigos que, quanto depender de ti, desejes viver sem relações humanas. Quanto mais se chegar o homem para Deus, tanto mais se afastará de todo alívio terreno. E tanto mais alto sobe para Deus, quanto mais baixo desce na sua estimação, e mais vil se reputa. ( Como não se deve procurar a paz nos homens)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

PORQUE VOCÊ NÃO QUER MAIS IR A IGREJA

Este material, vem do espetacular livro de Wayne Jacobsen e Dave Coleman intitulado: Por que você não que mais ir a Igreja.

Trata-se de um texto, publicado na edição de maio de 2001 de BodyLife (www.lifestream.org), vem circulando pelo mundo para oferecer uma perspectiva e uma argumentação capazes de ajudar as pessoas a compreender como é possível abraçar a vida em Cristo por muitas outras formas de relacionamento além das que a tradicional vida eclesiástica costuma proporcionar. É uma resposta a todos aqueles que defendem a necessidade de pertencer a uma instituição determinada para fazer parte da Igreja.

O texto é grande, mas vale a pena lê-lo todo, Muito curioso, o mesmo pincela um trabalho de célula, que se originou na igreja primitiva. Boa leitura a todos.

Prezado irmão de fé.

Agradeço muito sua preocupação comigo e sua disposição de colocar questões que causaram essa preocupação. Você sabe que a forma como me relaciono com a Igreja é um tanto anticonvencional, e há até quem a considere temerária. Creia-me, compreendo bem sua preocupação, pois eu próprio também costumava pensar dessa maneira e cheguei mesmo a ensinar outras pessoas a fazê-lo.

Se você está satisfeito com o Status Quo da atual religião institucional talvez não goste do que vai ler aqui. Meu objetivo não é convence-lo a ver essa incrível igreja da mesma forma que eu, e sim responder as suas perguntas o mais aberta e honestamente que puder. Mesmo que acabemos não concordando, espero que entenda que nossas diferenças não distanciam necessariamente enquanto membros do corpo de Cristo.

A QUE IGREJA VOCÊ VAI?

Jamais gostei dessa pergunta, mesmo quando era capaz de responder a ela citando uma organização específica. Conheço seu significado cultural, mas ela se baseia numa falsa premissa – a de que a igreja é um lugar aonde se pode ir da mesma maneira como se vai a um evento, a uma festa ou se

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

NUM PRESÉPIO

Uma adaptação do Texto de José Antonio Pagola.

O texto de referencia é o Evangelho de São Lucas, capítulo 2 versos 1 à 14.

Segundo o relato de Lucas, é a mensagem do Anjo aos pastores que nos dá as chaves para ler, a partir da fé, o mistério que se encerra num menino nascido em estranhas circunstancias fora de Belém.

É noite. Uma claridade desconhecida ilumina as trevas que cobrem Belém. A luz não desce sobre o lugar em que se encontra o menino, mas envolve os pastores que escutam a mensagem. O menino permanece oculto na escuridão, num lugar desconhecido. É necessário fazer um esforço para descobri-lo.

Essas são as primeiras palavras que temos que escutar: "Não tenhais medo. Trago-vos a Boa notícia: a alegria grande para todo o povo". É algo muito grande o que aconteceu. Todos temos motivos para nos alegrar. Este menino não é de Maria e José. Nasceu para todos nós. Não é só para alguns privilegiados. É para todo mundo.

Nós Cristãos não temos que monopolizar essas festas. Jesus é de quem o segue com fé e de quem o esqueceu, de quem confia em Deus e de quem duvida de tudo. Ninguém está sozinho diante dos próprios medos. Ninguém está sozinho em sua solidão. Há alguém que pensa em nós.

Assim o proclama o mensageiro: "Hoje nasceu para vós um Salvador: o Messias, o Senhor". Não é o filho do imperador Augusto, dominador do mundo, celebrado como salvador e portador da paz graças ao poder de suas legiões. O nascimento de um poderoso não é boa noticia num mundo em que os fracos são vítima de toda espécia de abusos.

Este menino nasce num povo submetido ao Império. Não tem cidadania romana. Ninguém em Roma espera seu nascimento. É, porém, o Salvador de que necessitamos. Não estará ao serviço de nenhum César. Não trabalhará para nenhum império. Só buscará o reino de Deus e sua justiça. Viverá para tornar a vida mais humana. Nele encontrará este mundo injusto a salvação de Deus.

Onde está este menino? Como o podemos reconhecer? Assim diz o mensageiro: "Isto vos servirá de sinal: Encontrareis um recém-nascido envolto em faixas e deitado numa manjedoura". O menino nasceu como um excluído. Seus pais não puderam encontrar um lugar acolhedor para ele. Sua mãe deu-o à luz sem ajuda de ninguém. Ela se virou como pôde para envolvê-lo em faixas e deitá-lo num presépio.

Neste presépio, Deus começa sua aventura entre os homens e as mulheres. Não o encontraremos nos poderosos, mas nos fracos. Não está no grandioso e no espetacular, mas no pobre e pequeno. Temos que escutar a mensagem: vamos A Belém; voltemos às raízes de nossa fé. Busquemos Deus onde ele se encarnou. 


quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Diferença entre orar e rezar – as "vãs repetições" o famoso cisma protestante

ASSIM COMO atestam Michaellis, Aurélio e todos os dicionários da língua portuguesa, os termos orar e rezar são sinônimos. Aliás, é importante notar que essa duplicidade de termos que expressam uma mesma realidade é característica de nossa língua pátria. 

Em vários dicionários, o significado de Rezar significa, Proferir, dizer (oração ou súplicas religiosas); fazer preces: rezar dez padres-nossos. Referir, conter escrito: isto é o que reza a lei.
Fig. Resmungar, murmurar.
Dirigir súplicas (à divindade); orar: rezar aos santos. Tratar, falar: é um dos maiores feitos de que reza a história. V.i. Fazer oração a Deus ou aos santos.

Em inglês, por exemplo, o verbo "to pray" significa exatamente o mesmo: orar ou rezar, tanto faz. Em italiano, usa-se a palavra "pregare", que poderia ser traduzida como "suplicar" e que tem o mesmo sentido de orar ou rezar em nosso idioma. 

No desenvolvimento do português, – esta língua tão complexa, – surgiram muitos termos sinônimos, como: andar e caminhar; experimentar e experienciar; trabalhar e laborar; alimentar e nutrir; orar e rezar, etc, etc... De fato, não há absolutamente nenhuma razão para se diferenciar radicalmente os termos orar e rezar. Infelizmente existe um grande cisma, e alguns membros protestantes (maior parte evangélica) vem "ensinando" em sua doutrina, que existe uma grande diferença entre orar e rezar.

Criou-se a ideia de que "rezar" seria repetir "vãs palavras", enquanto que "orar" seria, verdadeiramente, falar com Deus. O fato é porque se apegar a essa grande diferença entre palavras que são sinônimas? Vamos tentar analisar a questão, a seguir.  O que os evangélicos alegam é que rezar seria uma vã repetição de palavras decoradas, feita mecanicamente, enquanto que orar seria falar a Deus daquilo que vem do coração, com entrega, com fé e amor. – Vários teólogos tanto do lado protestante quanto do lado católico tentam desmontar essa construção um pouco distorcida, vamos ao estudo:

Na doutrina católica, não existe regra alguma de que os católicos só podem se utilizar de orações prontas para falar a Deus. Todo católico pode e deve elevar suas próprias orações espontâneas ao Criador, usando as palavras que lhe vêm ao coração, para pedir, louvar, dar graças.
O uso das fórmulas prontas sempre serviu (e serve) como uma espécie de guia, para orientar sobre a maneira correta de falar a Deus, conforme instruiu o próprio Senhor Jesus Cristo: quando um dos discípulos lhe perguntou como deveriam rezar ou orar (Lc 11,1-4. Mt 6,9-14), Jesus não ensina "falem como quiserem, digam as palavras que lhes vierem ao coração". O que Jesus fez foi ensinar a oração do Pai Nosso, dizendo: "Quando orardes, dizei assim...". – Jesus, pessoalmente, ensinou uma fórmula pronta, para que compreendêssemos o que era mais importante pedir a Deus, e em que ordem e de que maneira devemos fazê-lo.

Por meio desse modelo, Jesus nos ensinou como devem ser as nossas orações e como elas se tornam aceitáveis a Deus, nosso Pai do Céu. Vemos que pode ser muito útil usar fórmulas prontas como orientadoras para os nossos momentos de oração. Foi assim que o Cristo nos ensinou, e isso não quer dizer, de modo algum, que as orações da doutrina católica sejam feitas mecanicamente, sem entrega, sem devoção, sem amor.

Os evangélicos, colocam os termos de debate no famoso "Está na Bíblia", "não está na Bíblia", "onde é que está na Bíblia...", no segundo passo vem a famosa citação do texto do Evangelho de Mateus:

“...Orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos.” (Mt 6,7)"

A tradução acima é a do protestante português J. F. de Almeida (das versões 'corrigida e revisada' ou 'revisada imprensa bíblica'), as mais usadas pelos "evangélicos". Já a versão da NVI (Nova Versão Internacional), que é um trabalho de tradução conjunto entre teólogos católicos e protestantes, traz uma diferença vital:

"...Quando orarem, não fiquem sempre repetindo a mesma coisa, como fazem os pagãos. Eles pensam que por muito falarem serão ouvidos." (Mt 6,7)

Há uma diferença sutil, porém fundamental. Não fala em "vãs repetições". A NVI recebe críticas, tanto de católicos quanto de protestantes radicais, justamente pelos esforços conjuntos na tradução: ambos os lados consideram inadmissível a participação de apóstatas na tradução do texto sagrado. A lógica mais elementar, no entanto, grita o contrário: uma tradução conjunta, necessariamente descomprometida de interpretações teológicas particulares, terá que ser necessariamente próxima do que o texto original realmente diz, pois o único modo de não ferir posições contrárias é ater-se ao que está dito, sem pender nem para a direita e nem para a esquerda. Já a tradução da Sociedade Bíblica Britânica diz assim:

"Quando orardes, não useis de repetições desnecessárias como os gentios; porque pensam que pelo seu muito falar serão ouvidos." (Mt 6,7)

E quando examinamos a mesma passagem numa Bíblia aprovada pela Igreja Católica (como a da editora Ave Maria), notamos a divergência:

“Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras como fazem os pagãos, que julgam que serão ouvidos à força de palavras.” (Mt 6,7)

A tradução também católica da editora Vozes é a seguinte:

"...Nas orações, não faleis muitas palavras, como os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por causa das muitas palavras." (Mt 6,7)

Observe que existe, no mínimo, uma controvérsia em se usar a expressão "vãs repetições", escolhido por Almeida e da qual os "evangélicos" mais usam, na tradução da passagem em questão. 

Vamos analisar agora o texto bíblico original, em grego:

“Προσευχόμενοι δὲ μὴ βατταλογήσητε ὥσπερ οἱ ἐθνικοί, δοκοῦσιν γὰρ ὅτι ἐν τῇ πολυλογίᾳ αὐτῶν εἰσακουσθήσονται”.

(Transliteração:'Proseukomenoi de me battaloyesete osper oi etnikoi, dokusin gar oti en te polylogia auton eisakustesontai').


O vocábulo-chave aí é πολυλογίᾳ, que se pronuncia polylogia, e se traduz da seguinte maneira: poly quer dizer muito, bastante, em grande número; logia quer dizer palavra, discurso, descrição, linguagem, estudo, teoria. No contexto em questão, o termo está mais diretamente relacionado ao sentido de palavra. O termo polylogia, portanto, quer dizer algo como tagarelice, falatório, verborragia, prolixidade. Como vemos, na fiel tradução desta passagem dificilmente caberiam as palavras “vãs” e “repetições”, tão alardeadas.

Outro ponto importantíssimo é compreender que Jesus diz que não devemos falar muito, multiplicando as palavras (atenção) do mesmo modo como fazem os pagãos. É claro que os pagãos não recitavam os salmos, nem as orações dos judeus e muito menos o Pai Nosso, que o Senhor ensinou aos seus discípulos.

Agora, se "rezar" fosse o mesmo que usar de "vãs repetições", no sentido de repetir as mesmas palavras, então Jesus mesmo rezava, como vemos no Evangelho segundo S. Marcos, que mostra o Cristo falando a Deus Pai no jardim de Getsêmani, antes de Judas o trair:

"E, afastando-se de novo, orava dizendo novamente a mesma coisa..." (Mc 14, 39)

Muitos púlpitos no Brasil, liderados por pastores evangélicos dizem que Jesus estava cometendo um erro, "rezando" em vez de "orar", usando de "vãs repetições"...

Muitos evangélicos, por se aterem somente a palavra escrita (sola scriptura) acabam memorizando palavra por palavra as escrituras e criam "as vãs repetições". O problema é entendermos o que realmente está escrito. Além disso, muitas comunidades ditas "evangélicas" procuram valorizar sempre as diferenças, por menores que sejam, aumentando cada vez mais o fosso da separação entre cristãos. Acentuando as diferenças, seja no culto ou nas palavras, imediatamente se identificam como “crentes” ou “evangélicos” e se distanciam de católicos e ortodoxos. Ainda pior, querelas fúteis como esta servem de pretexto para alimentar a confusão entre os que buscam o verdadeiro cristianismo.  

Para finalizar, observemos o Salmo 135/6, que reproduzimos abaixo (tradução protestante de J. F. de Almeida):

"Louvai ao SENHOR, porque ele é bom;
Porque a sua benignidade dura para sempre.

Louvai ao Deus dos deuses;
Porque a sua benignidade dura para sempre.

Louvai ao Senhor dos senhores;
Porque a sua benignidade dura para sempre.

Aquele que só faz maravilhas;
porque a sua benignidade dura para sempre.

Aquele que por entendimento fez os céus;
Porque a sua benignidade dura para sempre.

Aquele que estendeu a terra sobre as águas;
Porque a sua benignidade dura para sempre.

Aquele que fez os grandes luminares;
Porque a sua benignidade dura para sempre..."
E assim prossegue a oração do salmista, até o final,repetindo sempre a mesma fórmula, de novo e de novo. Assim crê-se que o argumento de que os católicos usam de vãs repetições em suas orações, junto com a suposta importante diferença existente entre os termos "orar" e "rezar" não acontece.

Tanto "rezar" quanto "orar" englobam todos os gêneros de súplicas a Deus, desde aqueles de petição e agradecimento até as orações de louvor e glorificação ao Criador. 

Não se trata de nenhum segredo escondido: o leitor pode comprovar esta simples realidade através de breve pesquisa. Tudo que precisamos fazer é deixar de dar ouvidos aqueles que se consideram donos da verdade, e buscar a Vontade de Deus com amor soberano, pureza de alma, fé desapegada e absoluta sinceridade.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

RECEITA DA ALEGRIA


Texto produzido por: Padre Otacilio Lacerda



Com certa frequência aparecem propostas de "decálogos", e podemos ver uma delas no texto da Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses (5, 16-24).
 
Ao contrário de tantas falsas promessas de alegria, de felicidade, de realização em todos os âmbitos, temos dez indicações que se pode chamar de "receita da alegria":

1 - "Estai sempre alegres",
É a recomendação de São Paulo. Alegria é tarefa, virtude a ser praticada, decisão tomada com clareza, antes de ser uma efusão de barulho ou gargalhadas, quem sabe motivadas por exterioridades que não realizam as pessoas.

2 - "Orar sem cessar"
Como sabemos que quem ora se salva, temos também a certeza de que o apelo à Oração, é caminho certo para manter a verdadeira alegria.

3 - "Dai graças em todas as circunstâncias"!
Olhar ao redor e identificar os inúmeros motivos que temos para agradecer, muito maiores do que os problemas existentes. Vale a pena tomar posse, com a graça de Deus, da boa notícia de cada dia!

4 - "Não apagueis o Espírito"
É por Ele que somos conduzidos e seremos felizes se ouvirmos sempre a Sua voz, que se manifesta em nossa consciência.

5 - "Não desprezeis os dons de profecia, mas examinai tudo e guardai o que for bom"
O Senhor não nos entregou ao acaso dos acontecimentos, mas garantiu a assistência do Espírito Santo, para discernir o que é útil à nossa salvação. Vale a pena prestar atenção, porque há muita inspiração enviada por Deus aos pequeninos e aos mais jovens.

6 - "Afastai-vos de toda espécie de mal"
Não brincar com fogo para não se queimar, ensinam nossos pais. Radicalidade, fuga do pecado, seriedade na vivência da Lei de Deus.

7 - "Que o próprio Deus da paz vos santifique inteiramente"
Buscar a paz e a realização fora de Deus só conduz ao fracasso. Nosso mundo multiplica leis e regulamentos, mas falta-lhe a alma para encontrar a paz, que só pode vir de Deus.

8 - "Todo o vosso ser – o espírito, a alma e o corpo – seja guardado irrepreensível"
Não basta o cuidado do corpo, com a higiene, a alimentação, os exercícios físicos. É necessário cuidar da vida interior, se queremos ser realmente felizes e alegres!

9 - "Para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" De fato, "se é só para esta vida que pusemos a nossa esperança em Cristo, somos, dentre todos os homens, os mais dignos de compaixão" (1 Cor 15, 19). Fonte de felicidade é olhar também para a eternidade, depois de nossa Páscoa pessoal na morte!

10 - "Aquele que vos chama é fiel”, Ele mesmo fará isto. A última recomendação é a certeza de que estamos nas mãos de quem nos pode dar a verdadeira alegria!”

Agora é acolher a proposta e vivê-la: Palavra de Deus acolhida, crida e vivida é certeza de que algo novo irromperá em nossa vida.


Preparando-nos para celebrar o Natal do Senhor, não deixemos que pseudoalegrias nos deixem entorpecidos e não acolhamos a Divina Fonte da Alegria, o Menino Deus que vem ao nosso encontro, faz-Se um de nós, igual a nós, exceto no pecado, lá no presépio, na humilde manjedoura, o Seu primeiro Altar, para Se fazer presente em tantos Altares da Eucaristia pelo mundo, e de modo também muito especial no altar de nosso coração, onde fez também Sua morada.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

JAMAIS COMPARE SEUS FILHOS

Por Karine Rizzardi*
Imagine se o pé olhasse para a mão e dissesse:
- “Você não é como eu. Se não fosse por mim, ninguém ficaria em pé.”
- “E se não fosse por mim, ninguém pinçaria os objetos e as pessoas teriam dificuldade de comer, disse a mão.”
A cada atendimento clínico que faço, eu comprovo o quanto a raiz dos problemas das pessoas nasce da comparação entre elas, principalmente no período da infância. Ser comparado com seus irmãos, parentes, vizinhos e amigos, pode deixar marcas de uma identidade com resquícios de inferioridade, insegurança e até timidez.
Agir dessa forma pode esmagar as peculiaridades de cada um, podendo até estancar as habilidades natas que cada pessoa tem ao nascer. Assim como a mão não deve ser comparada com o pé (porque ambos precisam ser valorizados em suas funções), de igual forma nós também não devemos comparar os filhos, pois isso pode representar um assassinato a suas personalidades.
- “Termina de comer o que está no seu prato. Olha lá a Valentina! Ela já está quase acabando”.
- “Você viu que a filha do vizinho vai tentar medicina na faculdade?”
- “Você viu como a Amanda é educada? Você deveria fazer igual”.
- “Essa aí puxou o pai. Eles dois tem o gênio bem parecido.”
O excesso da comparação pode produzir justamente o oposto daquilo que os pais querem. Se você compara o fato de um filho ser estudioso e o outro ser mais preguiçoso, é muito provável que o preguiçoso fique com mais preguiça ainda.
Comparações, comparações e mais comparações. Por certo, nossos filhos terão que lidar com isso durante a vida, independente de ser algo positivo ou não. Ocorre que, quando se é adulto, a maturidade emocional já está formada e o impacto da comparação pode não interferir na sua auto imagem, mas enquanto se é pequeno (principalmente até os 7 anos), o filho precisa saber que é único e que não tem que ser comparado com ninguém. Eu sou eu, você é você e ponto final.
Infelizmente isto é algo tão cristalizado na nossa cultura, que a competitividade entre os irmãos pode nascer do próprio comentário dos pais. Sem perceber, os adultos igualmente assim procedem quando se comparam com seus amigos no ato de observar quem tem o melhor carro, quem se destaca mais profissionalmente ou qual amiga é mais bonita. É a comparação e a inveja que alimentam a competitividade e muitas pessoas não sabem lidar bem com isso, justamente pela imagem emocional que ficou registrada na infância.
Quando se educa os filhos respeitando as individualidades de cada um, você contribuirá para que este seja um adulto mais seguro profissionalmente, com menos complexos psicológicos, com boa dose de iniciativa e sem problemas de inferioridade, pois dentro dele ficou carimbado: “Eu não sou melhor e nem pior – apenas diferente dos outros”. 
*A autora é psicóloga especialista de casais e família.
//