// Estar com Deus: agosto 2013

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

A ALMA É IMORTAL?

INTRODUÇÃO

A Igreja ensina que cada alma espiritual é criada diretamente por Deus - esta não é "produzida" pelos pais - e que é imortal: não perece quando, na morte, se separa do corpo e tornará a se unir ao corpo quando ocorrer a ressurreição final.

Apesar da doutrina da imortalidade da alma estar claramente revelada nas Escrituras, existem seitas e denominações protestantes (testemunhas de Jeová, adventistas etc.) que, apegando-se a uma interpretação particular da Bíblia, não cansam de rejeitá-la obstinadamente. Eis aqui um resumo dos seus argumentos.

QUAIS SÃO OS ARGUMENTOS DAS SEITAS QUE NEGAM A IMORTALIDADE DA ALMA?

Um resumo dos argumentos empregados pelos testemunhas de Jeová para negar a imortalidade da alma extraí de sua revista "Despertai", de 22 de outubro de 1982:

"Os testemunhas de Jeová (...) crêem que a alma humana é mortal, que os mortos não sentem nada em absoluto. Por que crêem nisto? (...) os escritores das Escrituras Hebraicas (Antigo Testamento) jamais - nem uma só vez - acrescentaram às palavras 'néphesh' (o termo hebraico para 'alma') ou 'rúahh' (o termo hebraico para 'espírito') a qualificação de 'imortal'. Ao contrário, ensinaram que alma humana morre: 'A alma que pecar, essa é a que morrerá' (Ezequiel 18:4.20, Versão Moderna; ver também Salmo 22:29; 78:50). Dizem que os mortos estão inconscientes: 'Porque os vivos sabem que morrerão, mas os mortos nada sabem e já não há salário para eles (...) Qualquer coisa que esteja ao teu alcance fazer, fazei-a conforme as tuas forças, porque não existirá obra, razão, ciência ou sabedoria no Sheol [o sepulcro comum da humanidade] para onde irás' (Eclesiastes 9:5.10, Bíblia de Jerusalém). As Escrituras Gregas (Novo Testamento) oferecem o mesmo ponto de vista sobre a alma e a morte. Jesus disse que Deus 'pode destruir tanto a alma quanto o corpo', de forma que, se a alma pode ser destruída, não pode ser imortal (Mateus 10:28). Falando de Jesus, o apóstolo Pedro declarou: 'Qualquer alma que não escute esse profeta será totalmente destruída' (Atos 3:23). Jesus também mostrou que os mortos encontram-se inconscientes, pois comparou a morte a 'um sono que concede descanso' (João 11:11-14). Isto está em harmonia com o que qualquer pessoa pode facilmente discernir ao participar de um funeral, onde pode ver o corpo do falecido. Segundo o relato da Criação registrado em Gênesis 2:7, Adão foi formado do pó da terra e 'o homem veio a ser alma vivente'. Portanto, a Bíblia usa a expressão 'sua alma' para se referir à 'própria pessoa'" (Despertai, 1982 - G82, 22/10, pp.25-27). Partindo deste breve resumo, podemos separar seus argumentos para estudá-los um por um:

ARGUMENTO Nº 1: OS MORTOS NÃO TÊM CONSCIÊNCIA DE NADA

"Porque os vivos sabem que morrerão, mas os mortos nada sabem e já não há salário para eles, pois foi perdida a sua memória. Tanto o seu amor quanto o seu ódio, como os seus zelos, há tempos pereceu e nunca tomarão parte em qualquer coisa que ocorra sob o sol" (Eclesiastes 9,5-6).

Os testemunhas de Jeová interpretam literalmente e fora do contexto este texto bíblico para afirmar que a pessoa, quando morre, não possui consciência de nada; logo, não haveria uma alma imortal que sobrevivesse. Para eles, quando uma pessoa morre, deixa de existir e apenas "fica na memória de Jeová". Contudo, para entender por que os testemunhas de Jeová chegaram a esta conclusão, devemos compreender a sua forma de enxergar as Escrituras.

Sua principal dificuldade encontra-se talvez em não compreender que a revelação divina foi progressiva. Não deveríamos ficar surpresos por não encontrar nenhuma referência à ressurreição em todo o Pentateuco (as primeiras menções à ressurreição encontramos em Isaías 26,19 e Daniel 12; inclusive, nos tempos de Jesus, os saduceus a rejeitavam) e muito menos em reconhecer que o motivo disso é que ela não havia sido revelada até então. A própria revelação do Messias como Deus e Filho de Deus não é igualmente clara no Antigo tal como temos no Novo Testamento. Muitos exemplos poderiam ser citados, mas certamente qualquer leitor cuidadoso poderá observar sem muita dificuldade este desenvolvimento da revelação à medida que avança a leitura das páginas da Bíblia, o que implica que houve momentos da História onde o conhecimento de certas verdades era parcial e limitado, aumentando à medida que avançava a transmissão da revelação ao Povo de Deus.

O mesmo ocorre quanto a compreensão do Povo de Deus acerca de seu conhecimento sobre o além e, sobretudo, acerca da recompensa ou sanção aplicada a cada um. Assim, para o autor do Eclesiastes, bem como para os autores dos livros sagrados anteriores, não existe um conhecimento claro de recompensa ou castigo, a não ser quanto aos bens ou males da vida presente. Parece sim vislumbrar que Deus julgará as ações do justo e do ímpio (Eclesiástico 3,17; 11,9; 12,14) embora sem conhecer a natureza da recompensa.

É simples, assim, compreender que não é que o Autor ponha em dúvida a imortalidade da alma e a retribuição futura, mas que as ignora e, por isso, compara a condição dos vivos com a dos mortos conforme suas concepções acerca do Sheol (lugar onde antes da ressurreição de Cristo descansavam as almas e no qual já não faziam parte do mundo dos vivos).

Pode-se encontrar ao longo de todo o Livro textos que confirmam isso: "Quem sabe se o alento de vida dos humanos ascende ao alto e se o alento de vida da fera desce à terra?" (Eclesiastes 3,21). O próprio Autor reconhece aqui não saber o que acontece com o alento de vida dos seres humanos e se se diferencia do [alento de vida] dos animais.

Em outra parte escreve: "Porque o homem e a fera possuem a mesma sorte: um morre como o outro e ambos possuem o mesmo alento de vida. O homem em nada leva vantagem sobre a fera..." (Eclesiastes 3,19), textos que permitem entender que o Autor fala apenas sobre o que sabe e o que tinha sido revelado até então. No entanto, os testemunhas de Jeová sustentam toda a sua doutrina em textos do Antigo Testamento - quando a Revelação estava ainda em pleno progresso - e se vêem obrigados a distorcer todos os textos claros do Novo Testamento que contradizem a sua teologia.

O mais contraditório de sua teologia é que, ao interpretar Eclesiastes 9,5-6 como o fazem, deveriam concluir que tampouco existe recompensa futura, já que o texto afirma que para os mortos "já não há salário para eles", embora saibamos que "o Filho do Homem há de vir na glória do seu Pai, com os seus anjos, e então pagará a cada um segundo a sua conduta" (Mateus 16,27).

ARGUMENTO Nº 2: A ALMA QUE PECAR MORRERÁ

"Minhas são todas as almas; tanto a do pai quanto a do filho, minhas são, e a alma que peca, essa perecerá" (Ezequiel 18,4).

De alguma maneira, os testemunhas de Jeová optaram por interpretar que este texto se refere à aniquilação ou destruição da alma. Talvez a principal dificuldade aqui seja a sua falta de compreensão acerca do significado da palavra "morte" na Bíblia, a qual, em certos casos, faz referência à separação da alma do corpo (=morte física), mas em outros casos se refere à separação do homem de Deus em razão do pecado (=morte espiritual).

Entre alguns textos onde a morte faz referência à morte física, em que se separam alma e corpo:

- "E ao exalar a alma, pois estava doente, o chamou Ben-'oní; porém, seu pai o chamou Benjamin" (Gênesis 35,18).

- "Pois para mim a vida é Cristo e a morte um lucro. Porém, se o viver na carne significa para mim trabalho fecundo, não sei o que escolher... Sinto-me premiado dos dois lados: por um lado, desejo partir e estar com Cristo, o que, certamente, é muito melhor; mas, por outro lado, ficar na carne é mais necessário para vós" (Filipenses 1,21-24).

No texto anterior, São Paulo está consciente de que ao morrer deixará o seu corpo para estar com Cristo; prefere, no entanto, permanecer na carne em razão da evangelização. O seguinte texto é ainda mais explícito:

"Assim, pois, sempre cheios de bom ânimo, sabendo que, enquanto habitamos no corpo, vivemos afastados do Senhor, já que caminhamos na fé e não na visão (...) Estamos, pois, cheios de bom ânimo e preferimos deixar este corpo para viver com o Senhor. Por isso, quer em nosso corpo, quer fora dele, nos esforçamos por agradar-Lhe" (2Coríntios 5,6-9).

Basta apenas este texto para desarmar toda a teologia dos testemunhas de Jeová e adventistas, já que fala explicitamente da possibilidade de se viver no corpo e fora dele, e que em ambos os estados nos esforçamos em agradar a Deus.

Entre alguns textos onde a morte faz referência à separação do homem de Deus em razão do pecado, temos:

- "E a vós que estáveis mortos em vossos delitos e pecados" (Efésios 2,1).

- "Estando mortos em razão de nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo - pela graça fostes salvos" (Efésios 2,5).

- "Pois tudo o que fica manifesto é luz; por isso se diz: 'Desperta tu que dormes e te levanta dentre os mortos, e Cristo te iluminará" (Efésios 5,14).

- "E a vós, que estáveis mortos em vossos delitos e em vossa carne incircuncisa, vos vivificou juntamente com Ele e nos perdoou a todos os nossos delitos" (Colossenses 2,13).

É por isso que não é coerente interpretar Ezequiel 18,4 como uma aniquilação da existência da alma, mas, pelo contrário, o que realmente significa: um estado onde a alma fica afastada de Deus por toda a eternidade.

- "Porque é próprio da justiça de Deus pagar com tribulação aqueles que vos atribulam; e a vós, os atribulados, com o descanso junto conosco, quando o Senhor Jesus se revelar a partir do céu com os seus poderosos anjos em meio a uma chama de fogo, e realizar vingança contra os que não conhecem a Deus e os que não obedecem ao Evangelho de nosso Senhor Jesus. Estes sofrerão a pena de uma ruína eterna, afastados da presença do Senhor e da glória do seu poder" (2Tessalonicenses 1,6-9).

- "Ali será pranto e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac, Jacó e todos os profetas no Reino de Deus, enquanto que vós estareis sendo lançados fora" (Lucas 13,28).

Outra referência à morte da alma, não como uma aniquilação definitiva, mas como uma separação do homem de Deus, encontramos no Apocalipse, onde se fala da "segunda morte":

- "Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: 'o vencedor não sofrerá o dano da segunda morte'" (Apocalipse 2,11).

- "Porém, os covardes, os incrédulos, os abomináveis, os assassinos, os impuros, os feiticeiros, os idólatras e todos os embusteiros terão a sua parte no lago que arde com fogo e enxofre, que é a segunda morte" (Apocalipse 21,8).

- "E o Diabo, seu sedutor, foi atirado no lago de fogo e enxofre, onde estão também a besta e o falso profeta; e serão atormentados dia e noite pelos séculos dos séculos" (Apocalipse 20,10).

- "E eu vos digo que virão muitos do oriente e do ocidente e se colocarão à mesa com Abraão, Isaac e Jacó no Reino dos Céus, enquanto que os filhos do mundo serão lançados às trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes" (Mateus 8,12).

Ao lermos cuidadosamente estes textos, é possível perceber que a segunda morte (chama-se assim precisamente porque é a morte da alma) que os condenados sofrerão em conjunto com o Diabo, a besta e o falso profeta, implicará não apenas no afastamente de Deus por toda a eternidade (=pena de dano), mas ainda uma espécie de tormento eterno (=pena de sentido).

"Muitos dos que dormem no pó da terra despertarão: uns para a vida eterna; outros, para o opróbio, para o horror eterno" (Daniel 12,2).

Em absolutamente todos os textos que tratam do destino final dos condenados (Mateus 8,12; 13,42; 24,51; 25,30; Lucas 13,28), encontramos o mesmo: a morte da alma é um estado de separação definitivo de Deus, nunca se falando de uma destruição ou cessação da existência.

Observação: Os testemunhas de Jeová afirmam que apenas os justos ressuscitarão. Embora este jeito de ver as coisas seja quase lógico - já que não teria muito sentido os injustos ressuscitarem para tornarem a ser destruídos - isto, porém, contradiz o que o profeta Daniel já havia profetizado no texto que acabamos de citar (v. Daniel 12,2).

ARGUMENTO Nº 3: JESUS DISSE QUE DEUS "PODE DESTRUIR TANTO A ALMA QUANTO O CORPO", DE MODO QUE, SE A ALMA PODE SER DESTRUÍDA, LOGO NÃO PODE SER IMORTAL (MATEUS 10:28)

Aqui, o erro das testemunhas é novamente interpretar esta morte da alma como uma aniquilação. Seu argumento é que o texto grego emprega "άπόλλυμι" ("apólumi"), que traduzem e interpretam literalmente como "destruir". O "Dicionário de Grego Strong" nos oferece o seguinte significado:

G622
apólumi
de G575 e a base de G3639: destruir completamente (reflexivamente perecer ou perder), literal ou figurativamente: destruir matar, morrer, perder, perdido, perecível, perecer.

Não há razão nenhuma, portanto, para interpretar nesse texto a palavra "apólumi" como uma aniquilação ou destruição literal da alma. O contexto desse mesmo texto não apenas rejeita essa idécia como também serve para refutá-la:

"E não temais aqueles que matam o corpo, porém não podem matar a alma; temei mais Aquele que pode levar a alma e o corpo à perdição na Gehena" (Mateus 10,28).

Visto que os adventistas e os testemunhas de Jeová não crêem na imortalidade da alma, como algo poderia matar apenas o corpo e não matar a alma? Recorde-se que eles afirmam que não existe alma que sobreviva ao corpo e que, ao morrer o corpo, morre a alma. Porém, não é isso o que Jesus diz ali, mas justamente o contrário: há causas que podem matar o corpo sem matar a alma (um acidente ou qualquer coisa que pode causar a morte física, mas não a morte espiritual), de modo que a alma sobrevive ao corpo uma vez separada dele. Com efeito, o contexto de morte ou destruição da alma que é tratado ali não é uma aniquilação, mas um estado de morte espiritual definitiva.

EVIDÊNCIAS BÍBLICAS EM FAVOR DA IMORTALIDADE DA ALMA

Evidência nº 1: A Promessa feita ao Bom Ladrão

Certamente todos nós recordamos o que ocorreu com o bom ladrão quando Jesus foi crucificado:

"E um dos malfeitores que estavam pendurados lhe injuriava, dizendo: 'Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo e a nós'. E respondendo, o outro lhe repreendeu, dizendo: 'Nem tu temes a Deus passando pela mesma condenação? Nós, na verdade, padecemos justamente, porque recebemos o que mereceram os nossos atos; mas quanto a este, nenhum mal fez'. E disse a Jesus: 'Senhor, lembra-te de mim quando vieres em teu Reino'. Então Jesus lhe disse: 'Em verdade te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso'" (Lucas 23,39-43).

O interessante neste evento é que Jesus promete ao bom ladrão estar com Ele no Paraíso ainda naquele dia. Mas como poderia ocorrer isso se a alma não sobrevive ao corpo? Visto que este simples texto desmorona instantaneamente toda a teologia dos testemunhas e adventistas, estes inventaram um argumento bastante original para se justificarem: alegam que em tal época não existiam sinais de pontuação, de modo que o que Jesus quis dizer foi: "Em verdade te digo hoje: estarás comigo no paraíso" (a posição dos dois-pontos muda assim todo o sentido da frase).

O problema deste argumento é que tal forma de se expressar era totalmente alheia à forma de falar de Jesus verificada em todo o Novo Testamento. Quando Jesus usava a expressão "Em verdade te digo" (outras traduções traduzem: "Em verdade, em verdade", "Eu te asseguro" etc.), nunca a usava dessa maneira. Exemplos existem às dezenas, alguns dos quais podemos destacar:

- "Em verdade, em verdade eu te digo: Quando eras mais jovem, te cingias e ias para onde querias; mas quando fores mais velho, estenderás as tuas mãos e outro te cingirá e te levará para onde não queres" (João 21,18).

- "Em verdade eu te digo: não sairás dali até que pagues o último centavo" (Mateus 5,26).

- "Respondeu Jesus: 'Em verdade, em verdade eu te digo: quem não nascer novamente não poderá ver o Reino de Deus'" (João 3,3).

- "Em verdade, em verdade eu te digo: o que sabemos, encontramos; e o que vimos, testificamos; e não recebeis o nosso testemunho" (João 3,11).

- "Respondeu-lhe Jesus: 'Tua alma vai se pôr por mim? Em verdade, em verdade eu te digo: não cantará o galo sem que me tenhas negado três vezes'" (João 13,38).

Em todas estas oportunidades Jesus jamais disse: "Em verdade eu te digo HOJE:", mas apenas e de maneira bastante solene: "Em verdade eu te digo:".

Inclusive, quando Cristo empregou a palavra "hoje" nessa espécie de expressão, foi para afirmar que o referido evento ocorreria nesse exato dia:

"E disse-lhe Jesus: 'Em verdade eu te digo: tu, hoje, nesta noite, antes que o galo já tenha cantado duas vezes, me negarás por três vezes" (Marcos 14,30).

Nesta frase, nenhum adventista ou testemunha de Jeová se atreveria a dizer que Cristo estava dizendo que esse "hoje" seria qualquer outro dia, que Pedro algum dia O negaria, pois vemos que Cristo diz que Pedro O negaria neste mesmo dia ["nesta noite"], ou seja, "hoje" mesmo.

Outros exemplos onde Jesus empregou essa espécie de expressão sem jamais usar "hoje" para reafirmar a sua promessa ou o seu ensinamento podemos encontrar ao longo de todo o Evangelho (Mateus 3,9; 5.22.28.32.34.39.44; 12,36; 19,9; 21,27; Lucas 4,25; 9,27; 11,9; 12,44; 16,9; 19,26; João 16,7).

Os testemunhas de Jeová e os adventistas sustentam ainda que o bom ladrão não poderia estar com Jesus nesse dia no Paraíso porque Jesus subiu ao Pai somente após a ressurreição:

"Disse-lhe Jesus: 'Não me toques, pois não subi ao Pai. Porém, vai-te para onde estão os meus irmãos e dizei-lhes: 'Subo ao meu Pai e ao vosso Pai, ao meu Deus e ao vosso Deus'" (João 20,17).

Mas esta aparente "contradição" tem solução...

A aparente contradição é comentada por São Tomás de Aquino em sua "Suma Teológica", Parte III, c.52, a.4:

"Cristo, para assumir sobre si mesmo as nossas penas, quis que o seu corpo fosse depositado no sepulcro; e quis também que a sua alma descesse ao inferno. Porém, o seu corpo permaneceu no sepulcro um dia inteiro e duas noites para que se comprovasse a verdade da sua morte. Assim, é de crer também que a sua alma esteve outro tanto no inferno, a fim de que, por sua vez, saísse a sua alma do inferno e o seu corpo do sepulcro".

Mais adiante, continua dizendo:

"Cristo, ao descer ao inferno, libertou os santos que ali estavam, não retirando-os instantaneamente do lugar do inferno, mas iluminando-os com a luz de sua glória no próprio inferno. E, não obstante, foi conveniente que a sua alma permanecesse no inferno por todo o tempo que o seu corpo esteve no sepulcro".

Portanto:

"Essas palavras do Senhor devem ser entendidas, não quanto ao paraíso terrestre corpóreo, mas quanto ao paraíso espiritual, no qual se diz que vivem os que gozam da vida divina. Com efeito, o ladrão desceu localmente com Cristo ao inferno, para estar com Ele, visto que lhe disse: 'Estarás comigo no paraíso'; porém, em razão do prêmio, esteve no Paraíso porque ali gozava da divindade como os demais santos".

Evidência nº 2: a Parábola de Lázaro e o rico epulão

"Havia um homem rico, que se vestia com roupas finas e elegantes e dava festas esplêndidas todos os dias. Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, ficava sentado no chão junto à porta do rico. Queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico, mas, em vez disso, os cães vinham lamber suas feridas. Quando o pobre morreu, os anjos o levaram para junto de Abraão. Morreu também o rico e foi enterrado. Na região dos mortos, no meio dos tormentos, o rico levantou os olhos e viu de longe Abraão, com Lázaro ao seu lado. Então gritou: ‘Pai Abraão, tem compaixão de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a língua, porque sofro muito nestas chamas’. Mas Abraão respondeu: ‘Filho, lembra-te de que durante a vida recebeste teus bens e Lázaro, por sua vez, seus males. Agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado. Além disso, há um grande abismo entre nós: por mais que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós, e nem os daí poderiam atravessar até nós’. O rico insistiu: ‘Pai, eu te suplico, manda então Lázaro à casa de meu pai, porque eu tenho cinco irmãos. Que ele os avise, para que não venham também eles para este lugar de tormento’. Mas Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas! Que os escutem!’ O rico insistiu: ‘Não, Pai Abraão. Mas se alguém dentre os mortos for até eles, certamente vão se converter’. Abraão, porém, lhe disse: ‘Se não escutam a Moisés, nem aos Profetas, mesmo se alguém ressuscitar dos mortos, não acreditarão’" (Lucas 16,19-31).

Aqui temos, da boca do próprio Jesus, uma parábola onde, partindo de personagens fictícios, Jesus nos explica uma situação real aplicável a cada um de nós: a recompensa ou o castigo que receberemos conforme as nossas obras.

Não se deve crer - como crêem as seitas - que apenas por ser uma parábola ela não encerra um ensinamento real. Seria bastante curioso Jesus apresentar uma parábola fazendo alusão à imortalidade da alma se esta realmente fosse uma doutrina pagã. Ora, se a alma fosse mortal, nada seria mais inapropriado do que empregar uma parábola cuja interpretação acabasse reforçando o conceito judaico da imortalidade da alma, visto que Jesus poderia perfeitamente alterar um pouco a estória, apontando que o rico simplesmente já não mais existia após a sua morte, enquanto que Lázaro era recompensado ao ressuscitar no último dia.

Evidência nº 3: a Transfiguração

"Seis dias depois, Jesus levou consigo Pedro, Tiago e João e os fez subir a um lugar retirado, no alto de uma montanha, a sós. Lá, Ele foi transfigurado diante deles. Sua roupa ficou muito brilhante, tão branca como nenhuma lavadeira na terra conseguiria torná-la assim. Apareceram-lhes Elias e Moisés, conversando com Jesus" (Marcos 9,2-4).

Este é outro evento que lança por terra a teologia das seitas pois, já que a alma não sobrevive ao corpo, o que faziam aqui Moisés e Elias conversando com Jesus? É oportuno recordar que a morte de Moisés está claramente registrada nas Escrituras (cf. Deuteronômio 34,5-6).

Além da Transfiguração, temos ainda o evento da necromante de Endor, onde [o profeta] Samuel, já falecido, é evocado por ordem [do rei] Saul (1Samuel 28,6-20):

Tanto no caso de Samuel quanto no de Elias e Moisés não se pode alegar que se trata de parábolas, nem de alucinações, e muito menos - como me comentou certa ocasião uma pessoa que possui crenças adventistas - que Samuel era um demônio e que Moisés ressuscitara temporariamente na Transfiguração para logo depois tornar a morrer.

Evidência nº 4: Cristo prega aos espíritos encarcerados

"De fato, também Cristo morreu, uma vez por todas, por causa dos pecados, o justo pelos injustos, a fim de nos conduzir a Deus. Sofreu a morte, na existência humana, mas recebeu nova vida no Espírito. No Espírito, ele foi também pregar aos espíritos na prisão, aos que haviam sido desobedientes outrora, quando Deus usava de paciência — como nos dias em que Noé construía a arca. Nesta arca, umas poucas pessoas — oito — foram salvas, por meio da água" (1Pedro 3,18-20).

Este texto faz alusão à descida de Cristo aos infernos ("Sheol" para os hebreus) logo após a sua morte na Cruz, onde prega para aqueles justos que estavam retidos aguardando que Cristo, por sua morte e ressurreição, abrisse-lhes o caminho para entrar no céu (Hebreus 2,10; 9,8.15; 10,19-20; 1Pedro 3,19). Não custa dizer que neste evento encontra-se outra prova palpável da imortalidade da alma, visto que a pregação de Cristo é dirigida aos falecidos.

Devemos descartar os argumentos pouco convincentes das seitas, que sugerem que tal pregação foi um simples ato de presença diante dos demônios ou um ato condenatório. Isto porque o sentido do verbo grego "κηρύσσει ν" (pregar), é indicado pelo contexto geral, que trata da misericórdia de Deus e dos efeitos da redenção. A pregação teve que ser, portanto, o anúncio de uma Boa Nova, estando em harmonia com as palavras de Pedro que seguem imediatamente depois:

"Pois também aos mortos foi anunciado a Boa Nova, para que, mesmo julgados à maneira humana na carne, eles pudessem viver pelo Espírito, conforme o desejo de Deus" (1Pedro 4,6).

A hipótese de uma pregação condenatória seria contrária ao espírito da passagem. Ademais, devemos ressaltar que o termo "κηρύσσειv", no Novo Testamento, é empregado sempre para designar a pregação de uma Boa Nova.

Também é descabida a suposição de que se tratavam de demônios, pois faz referência a pessoas incrédulas que viviam nos tempos de Noé.

Devemos notar, no entanto, que ainda que o Apóstolo distinga especialmente os contemporâneos de Noé, não está com isto excluindo os demais justos; na verdade, ele está destacando a eficácia redentora de Cristo, a qual alcançou inclusive aqueles que em outra época foram considerados como grandes pecadores e provocaram o maior castigo de Deus sobre o mundo. Seriam assim aqueles que no tempo de Noé foram incrédulos às suas exortações ao arrependimento, mas que logo depois de se desencadear o dilúvio se arrependeram, pedindo perdão a Deus antes de morrerem.

Evidência nº 5: a Bíblia apresenta os salvos na presença de Deus

No capítulo 11 da Carta aos Hebreus são mencionados todos os Patriarcas e Santos da Antiguidade como modelos para os cristãos. Eles que não alcançaram "a promessa" e tiveram que esperar que Cristo, por sua morte e ressurreição, abrisse-lhes o caminho para ingressar no céu (Hebreus 2,10; 9,8.15; 10,19-20; 1Pedro 3,19) são apresentados como testemunhas ao nosso redor:

"Portanto, com tamanha nuvem de testemunhas em torno de nós, deixemos de lado tudo o que nos atrapalha e o pecado que nos envolve. Corramos com perseverança na competição que nos é proposta" (Hebreus 12,1).

O Autor da Carta aos Hebreus se serve, assim, de uma metáfora extraída dos jogos públicos, aos que estavam acostumados com a sociedade greco-romana. Imagina-se que, da mesma forma como naqueles jogos há uma nuvem de testemunhas observando, também nós, os cristãos, encontramo-nos rodeados por toda uma "nuvem de testemunhas" que observam o nosso esforço. Essas testemunhas, é claro, são os antepassados que o Autor acabara de mencionar e que se encontram na cidade do Deus Vivo, na assembleia dos primogênitos inscritos no Reino dos Céus, por se tratar dos espíritos dos justos que atingiram a perfeição:

"Vós, ao contrário, vos aproximastes do monte Sião e da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste; da reunião festiva de milhões de anjos; da assembleia dos primogênitos, cujos nomes estão escritos nos céus. Vós vos aproximastes de Deus, o Juiz de todos; dos espíritos dos justos, que chegaram à perfeição" (Hebreus 12,22-23).

Observe-se que se fala aqui dos "espíritos dos justos". Estes justos, no entanto, ainda não ressuscitaram, coisa que resta bem clara, primeiramente, porque são chamados de "espíritos"; e, em segundo lugar, porque a ressurreição se dará apenas no último dia (cf. João 6,39).

Outro texto onde podemos ver claramente as almas conscientes dos justos e na presença de Deus antes da ressurreição encontramos no Apocalipse:

"Quando abriu o quinto selo, vi debaixo do altar aqueles que tinham sido imolados por causa da Palavra de Deus e do testemunho que tinham dado. Gritaram com voz forte: 'Senhor santo e verdadeiro, até quando tardarás em fazer justiça, vingando o nosso sangue contra os habitantes da terra?' Então, cada um deles recebeu uma veste branca e foi-lhes dito que esperassem mais um pouco de tempo, até se completar o número dos seus companheiros e irmãos, que iriam ser mortos como eles" (Apocalipse 6,9-11).

E quando Estêvão - o primeiro mártir cristão - sofreu o martírio, viu, antes de morrer, o céu se abrir para receber o seu espírito:

"Cheio do Espírito Santo, Estêvão olhou para o céu e viu a glória de Deus; e viu também Jesus, de pé, à direita de Deus. Ele disse: 'Estou vendo o céu aberto e o Filho do Homem, de pé, à direita de Deus'. Mas eles, dando grandes gritos e tapando os ouvidos, avançaram todos juntos contra Estêvão; arrastaram-no para fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. As testemunhas deixaram seus mantos aos pés de um jovem, chamado Saulo, e apedrejavam Estêvão, que exclamava: 'Senhor Jesus, acolhe o meu espírito'. Dobrando os joelhos, gritou com voz forte: 'Senhor, não os condenes por este pecado'. Com estas palavras, adormeceu" (Atos 7,55-60).

CONCLUSÃO

As evidências em favor da imortalidade da alma são muitas. E de fato, não apenas os cristãos como também os judeus - que reconhecem apenas o Antigo Testamento - crêem nela. Apenas as seitas que aguardam [o cumprimento de] profecias falidas (adventistas e testemunhas de Jeová) é que se obstinam em negá-la, preferindo distorcer todo texto bíblico que refuta o seu erro.

Espero, assim, que este resumo sirva para transmitir-lhes a doutrina da Santa Igreja Católica e lhes permita abandonar o erro que professam.

BIBLIOGRAFIA

- Bíblia Comentada, texto de Nácar-Colunga.
- [Bíblia Sagrada, tradução da CNBB].


Autor: José Miguel Arráiz
Fonte: http://www.apologeticacatolica.org
Tradução: Carlos Martins Nabeto

A FALSA "TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO"




A segunda metade do século XX, sobretudo nas suas últimas três décadas, assistiu a tentativas mais ou menos grosseiras de manipulação da figura de Jesus Cristo para apoiar modelos de vida, de sociedade e de ação política que pouco ou nada têm a ver com o Jesus da História e da Fé. Assim surgiu o Cristo cósmico ou esotérico da Nova Era, o Cristo "hippie" da geração de 1968 e o Cristo revolucionário da ala marxista da Teologia da Libertação.

Nas últimas décadas, muitos dentro e fora da Igreja tentaram promover a ideologia política esquerdista disfarçando-a com roupagem cristã. Dessa maneira, a fé cristã é reduzida a um instrumento para a libertação das classes operárias. Aqueles que apóiam a ideia de uma sociedade cristã supostamente comunista usam frequentemente textos extraídos das Sagradas Escrituras que, isolados do seu contexto, parecem apoiar a ideia de uma sociedade cristã onde não existe propriedade privada e onde as riquezas materiais são intrinsecamente más. Estas ideias e outras que compõem a Teologia da Libertação passam por cima da mensagem completa do Evangelho, reduzindo-o e privando-o de sua verdadeira mensagem libertadora.

A Doutrina Social da Igreja exorta à caridade para com aqueles menos afortunados e à uma justa distribuição das riquezas na socidade cristã. A Igreja vai além da mera exortação e pratica a caridade através de todos os meios ao seu alcance, o que pode ser facilmente comprovado pela cuidadosa observação da atividade internacional dos inúmeros grupos caritativos católicos sustentados pela Igreja. Estas atividades caritativas surgem a partir do coração da Igreja e são uma manifestação do seu espírito agindo livremente como imitação de Cristo, o qual viveu o seu ministério rodeado dos mais necessitados dentro o povo do seu tempo. Ao analisarmos as partes da Escritura citadas com maior frequência pelos propagadores da Teologia da Libertação, percebemos que nenhuma delas exorta à partilha obrigatória das riquezas, nem ao emprego da violência, nem tampouco à luta de classes:

"Nem havia entre eles nenhum necessitado, porque todos os que possuíam terras e casas vendiam-nas e traziam o preço do que tinham vendido e depositavam-no aos pés dos apóstolos. Repartia-se então a cada um deles conforme a sua necessidade" (Atos 4,34-35).

Esta prática comunitária da Igreja da antiga Jerusalém é certamente louvável. É de se supor que o incipiente número de cristãos nesses anos tornasse possível o justo partilhamento dos recursos do grupo. Sabemos também que aqueles que compartilhavam os seus bens o faziam de maneira voluntária. Em nenhum lugar encontramos a Bíblia aprovar o confisco da propriedade privada. Na Igreja primitiva, toda pessoa que ajudava os pobres o fazia livremente. Ninguém tomava as posses dos outros para entregá-las aos pobres. Fazer tal coisa seria visto como roubo, uma violação ao livre-arbítrio do indivíduo.

"Um certo homem chamado Ananias, de comum acordo com sua mulher Safira, vendeu um campo e, combinando com ela, reteve uma parte da quantia da venda. Levando apenas a outra parte, depositou-a aos pés dos apóstolos. Pedro, porém, disse: 'Ananias, por que tomou conta Satanás do teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e enganasses acerca do valor do campo? Acaso não o podias conservar sem vendê-lo? E depois de vendido, não podias livremente dispor dessa quantia? Por que imaginaste isso em teu coração? Não foi aos homens que mentiste, mas a Deus'. Ao ouvir estas palavras, Ananias caiu morto. Apoderou-se grande terror de todos os que o ouviram. Uns moços retiraram-no dali, levaram-no para fora e o enterraram. Depois de umas três horas, entrou também sua mulher, nada sabendo do ocorrido. Pedro perguntou-lhe: 'Dize-me, mulher. Foi por tanto que vendestes o vosso campo?' Respondeu ela: 'Sim, por esse preço'. Replicou Pedro: 'Por que combinastes para pôr à prova o Espírito do Senhor? Estão ali à porta os pés daqueles que sepultaram teu marido. Hão de levar-te também a ti'. Imediatamente caiu aos seus pés e expirou. Entrando aqueles moços, acharam-na morta. Levaram-na para fora e a enterraram junto do seu marido" (Atos 5,1-10).
Um bom exemplo é o caso de Ananias e Safira, dois cristãos dessa época que pretenderam enganar o Apóstolo São Pedro retendo parte do dinheiro que haviam obtido com a venda de um campo. Observe-se que São Pedro os condena por mentir e por fazerem crer à Igreja que estavam entregando tudo, quando na verdade reservaram para si uma parte [do dinheiro]. O Apóstolo recorda-lhes que tinham a liberdade de reter para si o campo, o dinheiro da venda ou uma parte da sua totalidade, já que tinham todo o direito de fazer o que bem quisessem com a sua propriedade. No entanto, Ananias e Safira pretendiam que a comunidade os considerasse por bastante abnegados e generosos, buscando de fato a vã e passageira admiração dos homens e não o favor de Deus. Por suas ações, demonstraram não crer na presença do Espírito Santo na Igreja e foram condenados de maneira fulminante.

"Jesus fixou nele o olhar, amou-o e disse-lhe: 'Uma só coisa te falta; vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me'. Ele entristeceu-se com estas palavras e foi-se todo abatido, porque possuía muitos bens" (Marcos 10,21-22).
O jovem rico se aproxima de Cristo mas não consegue renunciar às suas riquezas. Cristo sempre falou da liberdade individual para escolher o bom caminho ou para se afastar do mesmo. Ele sabia que a coerção - inclusive por bons motivos aparentes - viola a verdadeira natureza da humanidade. Deus nos criou com livre-arbítrio. É um dom que Ele nunca retira. O homem rico errou ao valorizar os bens materiais, colocando-os acima da chamada de Cristo. Esperamos que, em algum momento posterior, este jovem tenha tomado consciência do seu erro e seguido ao Senhor. Porém, tirar-lhe à força as suas posses seria uma grave violação da sua vontade (inclusive da sua própria pessoa) e Cristo nunca o teria feito. Isso não implica, como bem afirma a Doutrina Social da Igreja, que os governos não possam regular a economia, basicamente através de impostos ou meios semelhantes, para assegurar a assistência aos mais necessitados. Deus valoriza tanto o nosso livre-arbítrio que realmente esconde de nós o Seu Rosto neste mundo. Se tivéssemos uma percepção direta de Deus, deixaríamos de ser indivíduos livres e nos converteríamos em meros aduladores temerosos, intimidados pela presença onipotente do Todo-Poderoso.

"Deram ali uma ceia em sua honra. Marta servia e Lázaro era um dos convivas. Tomando Maria uma libra de bálsamo de nardo puro, de grande preço, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com seus cabelos. A casa encheu-se do perfume do bálsamo. Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, aquele que o havia de trair, disse: 'Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos denários e não se deu aos pobres?' Dizia isso não porque ele se interessasse pelos pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, furtava o que nela lançavam. Jesus disse: 'Deixai-a; ela guardou este perfume para o dia da minha sepultura. Pois sempre tereis convosco os pobres, mas a mim nem sempre me tereis'" (João 12,2-8).
Aqui vemos como Judas hipocritamente condena o presente que a pecadora confere a Jesus como gesto de arrependimento. Aqui São João nos adverte que o motivo real de Judas não era o amor pelos pobres mas a avareza. Do mesmo modo, muitos "revolucionários" da História recente têm usado as necessidades das pessoas como desculpa para alcançar o poder civil e, logo depois, esquecer completamente os pobres e os operários. Sabe-se muito bem que nos governos comunistas de Cuba, da União Soviética, dos países do Oriente Europeu e Coréia do Norte os pobres e os operários formam uma classe aparte e de nível mais baixo, que não desfruta da mesma qualidade de vida e liberdade de locomoção que os membros das burocracias governantes.

As únicas ocasiões em que a Bíblia apresenta pessoas privadas - justamente! - das suas posses é quando elas transgrediram alguma lei (Neemias 5,13; 2Crônicas 21,14; Esdras 10,8). Os regimes de força esquerdistas, ao contrário, parecem mostrar-se impacientes para violar a liberdade individual. Consideram virtuoso usar a força para arrebatar a propriedade privada e - supostamente - dá-la aos que possuem menos. No entanto, cabe perguntar: existe alguma virtude ou mérito em fazer aquilo que somos obrigados a fazer?

Jesus nunca foi comunista e muito menos guerrilheiro. Defendeu o amor ao próximo e a livre doação de bens particulares aos que passam por necessidade, como de fato a Igreja continua ensinando. Cristo não tomou à força a propriedade de ninguém, nem instituiu impostos, nem confiscou barcos de pesca ou granjas, mesmo ao aceitar a legitimidade dos impostos quando disse: "Dai a César o que é de César".

Vale a pena reforçar que a Igreja Católica está profundamente comprometida em ajudar os pobres. Muitos de seus homens e mulheres são exemplos de santidade pelo serviço que prestaram aos necessitados, como, por exemplo, São Vicente de Paulo, Pierre Toussaint, São Martinho de Porres e Madre Teresa de Calcutá. Escola, hospitais, orfanatos, missões e abrigos católicos para os pobres encontram-se espalhados por todo o globo.

Atualmente, na África, onde a AIDS e os governos tirânicos têm provocado as mais severas e infelizes condições de vida sobre a terra, a Igreja Católica proporciona mais assistência social que qualquer outra instituição. E isto apesar de na África o número de muçulmanos superar o número de cristãos!

"Meus irmãos, na vossa fé em nosso glorioso Senhor Jesus Cristo, guardai-vos de toda consideração de pessoas. Suponde que entre na vossa reunião um homem com anel de ouro e ricos trajes, e entre também um pobre com trajes gastos; se atenderdes ao que está magnificamente trajado, e lhe disserdes: 'Senta-te aqui, neste lugar de honra', e disserdes ao pobre: 'Fica ali de pé', ou: 'Senta-te aqui junto ao estrado dos meus pés', não é verdade que fazeis distinção entre vós, e que sois juízes de pensamentos iníquos? Ouvi, meus caríssimos irmãos: porventura não escolheu Deus os pobres deste mundo para que fossem ricos na fé e herdeiros do Reino prometido por Deus aos que o amam? Mas vós desprezastes o pobre! Não são porventura os ricos os que vos oprimem e vos arrastam aos tribunais? Não blasfemam eles o belo nome que trazeis? Se cumprirdes a lei régia da Escritura: 'Amarás o teu próximo como a ti mesmo', sem dúvida fazeis bem. Mas se vos deixais levar por distinção de pessoas, cometeis uma falta e sereis condenados pela lei como transgressores" (Tiago 2,1-9). O Apóstolo Tiago nos recorda que o próprio Deus tem preferido os fiéis pobres para premiá-los com a glória do seu Reino e lhes outorgou as riquezas da verdadeira fé. Isto era evidente para Tiago, o qual era o bispo responsável pelo pastoreio dos fiéis da Palestina. Ali, as classes dominantes eram formadas principalmente por aqueles que não tinham crido em Cristo; e os membros das classes mais humildes, os que tinham sido premiados com a graça divina da fé. É por isso que Tiago lhes recorda - aos presbíteros e a toda comunidade - que a preferência por pessoas ricas e influentes está em clara oposição ao favor de Deus pelos pobres. Observe-se que Tiago não condena os ricos por sua condição econômica, mas condena as distinções porque constituem uma falta de amor ao próximo.

"Falai, pois, de tal modo e de tal modo procedei, como se estivésseis para ser julgados pela lei da liberdade. Haverá juízo sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o julgamento. De que aproveitará, irmãos, a alguém dizer que tem fé, se não tiver obras? Acaso esta fé poderá salvá-lo? Se a um irmão ou a uma irmã faltarem roupas e o alimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: 'Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, mas não lhes der o necessário para o corpo, de que lhes aproveitará?' Assim também a fé: se não tiver obras, é morta em si mesma. Mas alguém dirá: 'Tu tens fé, e eu tenho obras. Mostra-me a tua fé sem obras e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras'" (Tiago 2,12-18).
Tiago não poderia ser mais claro: a fé e a caridade prática seguem unidas.

"Vós, ricos, chorai e gemei por causa das desgraças que sobre vós virão. Vossas riquezas apodreceram e vossas roupas foram comidas pela traça. Vosso ouro e vossa prata enferrujaram-se e a sua ferrugem dará testemunho contra vós e devorará vossas carnes como fogo. Entesourastes nos últimos dias! Eis que o salário, que defraudastes aos trabalhadores que ceifavam os vossos campos, clama, e seus gritos de ceifadores chegaram aos ouvidos do Senhor dos exércitos. Tendes vivido em delícias e em dissoluções sobre a terra, e saciastes os vossos corações para o dia da matança! Condenastes e matastes o justo, e ele não vos resistiu" (Tiago 5,1-6).
Tiago nos revela também que as riquezas obtidas através da opressão, do crime e da injustiça não apenas se evaporam como também custarão a salvação àqueles que depositaram sua confiança nelas. Há alguns que utilizam esta passagem para condenar aqueles que obtêm suas riquezas trabalhando honestamente. Isto é um erro! O Apóstolo Tiago condena aqui o materialismo imoral que compartilham todos aqueles que empregam meios ilícitos para obter para si mesmos as riquezas deste mundo.

Tanto o que explora imoralmente aqueles que dependem dele pelo trabalho, como ainda o privilegiado por uma ditadura que vive às custas dos operários são igualmente culpáveis à vista de Deus, independente da orientação política que ostentam.

O burocrata que ascendeu a uma posição privilegiada com a desculpa de "servir aos operários" faz o mesmo que Judas Iscariotes: serve-se do tesouro da comunidade sob o pretexto de defendê-la. Os países nos quais o comunismo tomou o poder sempre produziram uma "nomenklatura", um grupo de privilegiados que vive uma vida melhor que o resto da população.

A Igreja encontra-se radicalmente comprometida a favor da verdadeira justiça social: aquela que defende a dignidade, inclusive dos mais fracos entre nós - os pobres, os oprimidos, os não-nascidos e os idosos - e nos chama a cada um de nós a sermos protetores dos nossos irmãos. Entretanto, ela busca mudar o coração dos homens, não apenas a lista das suas propriedades, porque no dia em que o nosso mundo estiver habitado por mais e mais fiéis cristãos verdadeiros necessariamente será um mundo mais justo e humano.

Como observação final: quem pode negar que a imensa maioria dos cem milhões de inocentes assassinados pelos regimes totalitários nos últimos 100 anos foram precisamente os mais pobres?


Autor: Carlos Caso-Rosendi
Fonte: http://voxfidei-apologetica.blogspot.com/
Tradução: Carlos Martins Nabeto

O QUE DISSE O PAPA SOBRE OS PRESERVATIVOS?

O novo livro de Bento XVI, "Luz do Mundo: o Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos", nem sequer tinha sido publicado e já estava no centro de uma controvérsia nos meios de comunicação on-line.


A polêmica explodiu na semana passada, quando o L'Osservatore Romano violou unilateralmente o embargo sobre o livro, publicando alguns extratos em língua italiana das diversas declarações do Papa, para grande desgosto dos editores em todo o mundo, que trabalhavam cuidadosamente visando um lançamento orquestrado do livro, que se daria na terça-feira seguinte.

Um dos extratos tratava do uso de preservativos para tentar evitar a propagação da AIDS e a imprensa imediatamente tirou proveito disto (p.ex.: Reuters, Associated Press, BBC Online). E assim, surgiram manchetes como:

- Papa diz que os preservativos são admissíveis em certos casos para deter a AIDS
- Papa: "Os preservativos justificam-se em alguns casos"
- Papa diz que os preservativos podem ser usados na luta contra a AIDS

Particularmente notória é a declaração de William Crawley, da BBC:

"O Papa Bento XVI parece ter alterado a postura oficial do Vaticano sobre o uso de preservativos, adotando uma posição moral que muitos teólogos católicos já recomendavam há muito tempo".

Bah!

Pois bem: em primeiro lugar, trata-se de um livro de entrevistas. O Papa foi entrevistado. Não estava exercendo seu múnus oficial de ensinar. Este livro não é uma encíclica, uma constituição apostólica, uma bula papal, nem nada semelhante. Não é uma publicação da Igreja. Trata-se de uma entrevista realizada por um jornalista, em idioma alemão. Consequentemente, o livro não representa um ato do Magistério da Igreja, nem tem a capacidade de "alterar a postura oficial do Vaticano" em nada. Não possui força dogmática nem canônica. O livro - que é fascinante e sem precedentes, mas isto é tema para outra oportunidade - constitui aquilo que se classifica como opiniões pessoais do Papa sobre as perguntas questionadas pelo entrevistador Peter Seewald.

E como o Papa Bento XVI observa no livro:

"Há que se dizer que o Papa pode ter opiniões privadas que se encontram equivocadas".

Não estou assinalando isto para insinuar que naquilo que o Papa Bento XVI fala a respeito dos preservativos está incorreto - chegaremos a este ponto ao seu tempo - mas para indicar o contexto da situação, deixando claro que se trata das opiniões privadas do Papa. São apenas isto: opiniões privadas. Não é ensino oficial da Igreja. Então, continuemos...

Entre os desserviços do L'Osservatore Romano feitos para romper o embargo do livro da maneira que fez, houve também o fato de que apenas publicou um pequeno trecho da seção em que o Papa discutia sobre o uso dos preservativos. Como resultado, o leitor não tinha como ver o contexto das suas declarações e, assim, garantir que a imprensa secular não estava tomando as observações do Papa fora do seu contexto (o que seria feito de qualquer modo, mas talvez nem tanto). Especialmente notório é o fato de que o L'Osservatore Romano omitiu o material onde Bento esclarece sua declaração sobre os preservativos, em uma pergunta logo a seguir.

Com efeito, o L'Osservatore Romano causou um grande dano tanto às comunidades católicas quanto às não-católicas.

Felizmente, agora você pode ler o texto completo das declarações do Papa.

Ademais, prevendo a controvérsia que estas palavras poderiam produzir, a drª. Janet Smith preparou um guia útil sobre o que o Papa disse e não disse.

Lancemos vista aos comentários do Papa, para ver o que ele realmente disse.

"Seewald: (...) Na África, se apontou que o ensino tradicional da Igreja demonstrou ser a única maneira segura de se deter a propagação do HIV. Os críticos, incluindo a crítica dentro das próprias fileiras da Igreja, objetam que é uma loucura proibir a população de alto risco de usar preservativos. Bento XVI: (...) Em minha intervenção, eu não estava fazendo uma declaração geral sobre o tema do preservativo, mas apenas dizendo - e isto é o que causou grande ofensa -, que não podemos resolver o problema mediante a distribuição de preservativos. Resta muito o que fazer. Devemos estar próximos das pessoas; devemos guiá-los e ajudá-los; e temos que fazer isto antes e depois do contágio com a doença. É um fato, como você já sabe, que as pessas podem obter preservativos quando o desejarem, de qualquer modo. Porém, isto serve apenas para demonstrar que os preservativos por si próprios não resolvem o problema em si mesmo. Muito mais precisa ser feito. Enquanto isso, no âmbito secular, desenvolveu-se a teoria chamada 'ABC' - abstinência, fidelidade, preservativo -, em que se entende o preservativo somente como um último recurso, quando os outros dois pontos foram rejeitados. Isto quer dizer que concentrar-se no preservativo implica em uma banalização da sexualidade, e, além de tudo, é precisamente a origem perigosa da atitude da sexualidade, não como a expressão do amor, mas como uma espécie de entorpecente que as pessoas administram a si mesmas. Esta é a razão pela qual a luta contra a banalização da sexualidade é parte também da luta para garantir que a sexualidade seja tratada como um valor positivo e para que possa ter um efeito positivo na totalidade de ser do homem". Consideremos que o argumento geral do Papa é que os preservativos não resolvem o problema da AIDS. Em apoio disto, ele aponta vários argumentos:

1) As pessoas já podem obter preservativos, mas é evidente que o problema não foi resolvido.

2) No mundo secular foi proposto o 'Programa ABC', em que o preservativo só será usado quando os dois primeiros procedimentos verdadeiramente eficazes - a abstinência e a fidelidade - tiverem sido rejeitados. Assim, a proposta secular do ABC reconhece inclusive que os preservativos não são a única solução. Eles não funcionam tão bem quanto a abstinência e a fidelidade. Os dois primeiros são melhores.

3) Concentrar-se no uso do preservativo representa uma banalização (trivialização) da sexualidade, que se converte de ato de amor em ato de egoísmo. Para que o sexo desempenhe o papel positivo que deve ter, esta banalização do sexo - e, portanto, a fixação nos preservativos - deve ser resistida.

Esse é o contexto da afirmação que a imprensa reproduziu:

"Pode haver casos individuais justificados como, por exemplo, quanto um prostituto usa um preservativo, e isto pode ser um primeiro passo para uma moralização, um primeiro ato de responsabilidade para desenvolver novamente a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer. Porém, não é realmente a maneira de tratar com o mal da infecção pelo HIV, o que realmente pode apenas vir de uma humanização da sexualidade".
Há várias coisas a se considerar: em primeiro lugar, leve em conta que o Papa diz que: "Pode haver casos individuais justificados", e não que: "Está justificado". Esta é uma linguagem especulativa. Mas sobre o quê o Papa especula? Que o uso do preservativo está moralmente justificado? Não, não foi isso o que ele disse, mas que pode haver casos "sempre e quando [o uso do preservativo] pode ser um primeiro passo para uma moralização, um primeiro ato de responsabilidade para desenvolver novamente a consciência de que nem tudo é permitido".

Em outras palavras, como diz Janet Smith:

"O Santo Padre está simplesmente observando que para alguns prostitutos homossexuais o uso de um preservativo pode indicar um despertar do sentido moral, um despertar acerca de que o prazer sexual não é o valor máximo, mas que devemos ter o cuidado de não prejudicar ninguém em nossas escolhas. Ele não está falando de uma moralidade do uso de preservativos, mas de algo que pode ser certo sobre o estado psicológico daqueles que os usam. Se estas pessoas, usando preservativos, o fazem com o fim de evitar prejudicar outras, com o passar do tempo perceberão que os atos sexuais entre membros do mesmo sexo são intrinsecamente maus, já que não estão de acordo com a natureza humana".
Pelo menos isto é o máximo que se pode razoavemente inferir das declarações do Papa, o que poderia ser expresso com maior clareza (e espero que o Vaticano emita um esclarecimento urgente).

Em segundo lugar, repare que o Papa segue imediatamente sua declaração acerca da prostituição homossexual usuária de preservativos com a afirmação: "Porém, não é realmente a maneira de se tratar com o mal da infecção pelo HIV, o que realmente pode apenas vir de uma humanização da sexualidade".

Por "uma humanização da sexualidade", o Papa quer reconhecer a verdade sobre a sexualidade humana, que deve ser exercida de maneira amorosa, fiel entre um homem e uma mulher unidos em matrimônio. Esta é a verdadeira solução e não colocar um preservativo e manter relações sexuais promíscuas com pessoas infectadas com um vírus mortal.

Neste momento da entrevista, Seewald faz uma pergunta de continuidade, e é verdadeiramente um crime que o L'Osservatore Romana não tenha reproduzido esta parte:

"Seewald: Quer dizer, então, que a Igreja Católica, na realidade, não se opõe em princípio ao uso dos preservativos? Bento XVI: Ela, obviamente, não os considera como solução real ou moral, porém, neste ou em outro caso, pode haver, todavia, a intenção de reduzir o risco da infecção, como um primeiro passo para uma forma distinta e mais humana de viver a sexualidade". Assim, Bento XVI reitera que esta não é uma solução real (prática) para a crise da AIDS, nem tampouco uma solução moral. No entanto, em alguns casos, o uso de preservativo mostra "a intenção de reduzir o risco da infecção", que é "um primeiro passo para... uma forma mais humana de viver a sexualidade".

Portanto, não está dizendo que o uso de preservativos é justificado, mas que pode mostrar uma intenção particular e que esta intenção é um passo na direção correta.

Janet Smith oferece uma analogia útil:

"Se alguém fosse assaltar um banco e estava decidido em empregar uma arma de fogo, seria melhor para essa pessoa usar uma arma desmuniciada: reduzir-se-ia o risco de lesões mortais. Porém, não é tarefa da Igreja ensinar possíveis assaltantes de banco a assaltar bancos de uma maneira mais segura; menos ainda é tarefa da Igreja apoiar programas para oferecer a possíveis assaltantes de banco armas de fogo incapazes de ser municiadas. Não obstante, a intenção de um assaltante de banco em assaltar um banco de uma maneira que é mais segura para os funcionários e clientes do banco pode indicar um elemento de responsabilidade moral que poderia ser um passo para a compreensão final da imoralidade que é o assalto a bancos".Muito mais se poderia dizer de tudo isto, mas pelo que vimos, já resta claro que as declarações do Papa devem ser lidas com cuidado e que não constituem o tipo de licença para o uso de preservativos que os meios de comunicação desejam.

Há mais por vir...


Autor: José Miguel Arráiz
Fonte: http://infocatolica.com/blogspot/apologeticamundo
Tradução: Carlos Martins Nabeto

CARACTERÍSTICAS DAS HERESIAS


No ano 144 d.C., durante um dos momentos mais difíceis da História da Igreja Católica, surgiu a heresia Marcionita que logo se estenderia principalmente pelo Império Bizantino e sobreviveria pelos próximos três séculos, até ser absorvida pelo Maniqueísmo e desaparecer. É possível que seu fundador, Marcião, fosse filho de um dos primeiros bispos de Sinope, uma diocese da Ásia Menor, de onde Marcião era originário. Há quem suponha (baseando-se na conhecida habilidade de Marcião para citar as Escrituras) que ele fosse um bispo renegado pela Igreja. Qualquer que fosse o caso, o certo é que Marcião deu origem a uma das mais persistentes heresias de seu tempo e, para isso, fez uso, pela primeira vez, de certas armas que todos os cristãos dissidentes empregariam no futuro até os nossos dias.

O gênio divisionista de Marcião criou uma nova doutrina pseudocristã, modificando a História Sagrada e publicando um cânon próprio das Escrituras. Isto que hoje nos parece tão familiar - depois de tantos séculos de Bíblias cerceadas, lendas negras e traduções deturpadas da Escritura - era então uma assombrosa novidade que cativou a muitos. Marcião sustentava, como muitos vieram a fazer desde então, que o Deus do Antigo Testamento era vingativo e colérico, que não podia corresponder à mansa e amorosa pessoa de Jesus. A partir de então, desenvolveu uma doutrina dualista que sustentava a existência de duas divindades, uma má (a do Antigo Testamento) e outra boa (a do Novo Testamento).

Ao iniciar uma nova igreja, sempre se tropeça com este problema: o que fazer com a Igreja Católica? Marcião não podia destruir a Igreja de Cristo, porém, podia desqualificá-la. Para isso, teve uma idéia que para nós parece bem desgastada, mas que era muito original naquela época: usar as Escrituras para impugnar a veracidade da doutrina católica.

O problema de usar essa estratégia é que as Escrituras do Antigo Testamento - inspiradas por um "deus mau", segundo Marcião - ofereciam amplo e suficiente testemunho da futura vinda de Jesus. Essa "pequena" inconsistência não foi grande problema para o líder herege, que declarou nulo todo o Antigo Testamento. Ao fazer isto, Marcião estabeleceu outro grande princípio, que quase todo movimento herético seguiria no futuro: eliminar as partes da Bíblia que não convenham à nova doutrina enquanto que, ao mesmo tempo, se exalta a Escritura (modificada) como a autoridade sobre a qual o novo grupo eclesial é fundado.

Recordemos que Marcião apareceu no cenário cristã menos de cinco décadas depois de ter falecido o último Apóstolo de Cristo. A Igreja de então suportava frequentes perseguições, algumas locais e outras mais estendidas. Os Evangelhos e os demais escritos cristãos circulavam sem que houvesse um cânon definido e universal. A Bíblia da Igreja Católica desses anos era a versão dos LXX (ou Septuaginta Alexandrina), que consistia basicamente dos livros que hoje encontramos no Antigo Testamento da Bíblia Católica.

As razões para a ausência de um cânon cristão eram várias, principalmente as constantes perseguições que tornavam impossível aos bispos se reunirem em sínodos gerais, os quais seriam muito perigosos por razões óbvias. Passariam-se quase três séculos até que se apagassem as perseguições imperiais e os bispos pudessem se reunir livremente para considerar quais escritos deveriam ser aprovados para sua inclusão no Novo Testamento. Uma das boas coisas que ocorreu por consequência da heresia marcionita foi justamente isto: a Igreja Católica tomou consciência da importância de possuir uma lista ordenada de escritos cristãos autorizados.

Antes que a Igreja pudesse produzir tal lista, Marcião criou um "evangelho" de sua própria lavra. Nele declarava que o invisível, indescritível e benévolo Deus (aoratos akatanomastos agathos theos) teria se apresentado entre os judeus pregando no dia de sábado. O pseudo-evangelho de Marcião era uma versão modificada do Evangelho de Lucas, editado para apoiar as doutrinas dualistas do fundador da seita.

A esta altura, encontramos no movimento marcionista as características que logo se repetem nas heresias surgidas posteriormente:

1. A base da doutrina é um texto - a Escritura - e não o Depósito da Fé recebido por toda a comunidade, como na Igreja Católica.

2. O texto da Escritura é alterado ou redigido para afirmar as doutrinas do novo grupo, criando assim uma nova e distinta tradição. O oposto ocorre na Igreja Católica, que preserva cuidadosamente e exalta o papel da Escritura dentro do contexto da Sagrada Tradição.

3. Altera-se o contexto histórico ou até a própria História. Isto é feito com o duplo sentido de afirmar a própria doutrina e, ao mesmo tempo, impugnar a Igreja Católica, acusando-a de ser ela quem "conta a História à sua maneira". Curiosamente, estas acusações tão imaturas imprimiram na Igreja o costume de documentar o desenvolvimento da sua própria doutrina na História. Na Igreja Católica a História, as Escrituras e a Doutrina da Igreja devem estar obrigatoriamente de acordo, sempre sem deixar espaço para dúvidas. É por isso que sabemos com certeza que hoje cremos na mesma fé declarada por Cristo e pelos Apóstolos.

Consequentemente, um dos testemunhos mais fortes que pode ser oferecido em favor do Catolicismo é a sua consistência e coerência durante vinte [e um] séculos de História. O mesmo não ocorreu com os marcionitas, que se dividiram em diversas seitas e, de uma espécie de puritanismo original, logo passaram para o Gnosticismo e, depois, para o Maniqueísmo, movimento que acabou absorvendo o Marcionismo por completo. Disto podemos deduzir uma quarta característica das heresias: sua instabilidade.

4. A instabilidade doutrinária e sua consequência (as divisões sectárias), identificam todas as heresias. Seguindo o ditado de "quem com o ferro mata, pelo ferro morrerá", os criadores de divisões na Igreja logo recebem na própria carne o seu amargo remédio.

Podemos afirmar, sem medo de errar, que todos os movimentos dissidentes do Cristianismo que se afastaram da Igreja Católica possuem estas quatro características em menor ou maior grau. Quando Cristo pregou a parábola da videira, disse assim:

"Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto. Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado. Estai em mim, e eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim. Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem. Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito. Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos. Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor. Tenho-vos dito isto, para que o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo. O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos. Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando" (João 15,1-14).

É inegável a importância destas palavras de Cristo. A Igreja deve operar em união com Cristo e em unidade interna. É a única maneira de produzir "fruto", isto é, a salvação das almas. Quem espera agir fora desta ordem que Cristo estabeleceu deixa de permanecer em Seu amor. Para permanecer no amor de Cristo, entende-se que devemos guardar os Seus mandamentos. Nesta simples parábola, Cristo resumiu as qualidades da Igreja que deverá durar até o fim do mundo. Todas elas provêm do amor cristão:

- A primeira qualidade é a humildade. Cristo é a videira, a plenitude da fé e o todo da Igreja, enquanto que seus discípulos são os ramos que se nutrem Dele. Não existe outra ordem pela qual algum dos ramos possa dar origem a outra videira distinta.

- A segunda qualidade é a obediência. Somos amigos de Cristo se fizermos o que Ele nos diz. Não há outra opção se O amamos.

- A terceira qualidade é consequência das outras duas: a união. A indivisibilidade da planta produz fruto que dá glória a Deus em Cristo. Essa união é o resultado visível do amor que começa em Cristo e se multiplica nos discípulos.

Como não ocorre - nem nunca ocorrerá - entre aqueles que se separam da Igreja Católica, estas três qualidades distintas produzem o milagre da duração da Igreja na História, que é por si mesma um poderoso testemunho da verdade do Evangelho. Quando Cristo nos adverte que sem Ele não podemos fazer nada, também agrega que nossa relação com Ele só pode ser frutífera. Sem Cristo, os ramos morrem sem dar fruto; com Cristo, a Igreja continua no mundo e na História, dando testemunho do Seu amor em perfeita união. Este é o fruto cristão por excelência!

Tendo comparado as qualidades próprias das heresias e da Igreja, não nos surpreende que as Palavras de Cristo se cumpram na História. Apenas a Igreja fundada por Cristo sobrevive dando testemunho ao longo dos séculos e ao mundo inteiro com a doutrina integral recebida de Cristo. Não importa quão numerosos sejam os membros de uma seita; sabemos que passarão enquanto que a Igreja continuará sua missão até que Jesus retorne. Os poderes malignos continuarão criando divisões, pois isto é da sua natureza; mesmo assim, não prevalecerão contra toda a Igreja (Mateus 16,13-20).

A Igreja já viu passar centenas de seitas, movimentos dissidentes, heresias crassas e toda espécie de inimigos. O testemunho da História é apenas um: a Igreja SEMPRE permanece e seus inimigos SEMPRE passam, pouco importando quão forte ou astuto tenham sido seus adversários. Aquele que a sustenta nunca dorme e Seu braço protetor jamais descansa!


Autor: Marcus Grodi
Fonte: http://www.prodigos.org
Tradução: Carlos Martins Nabeto
HISTÓRIA DA IGREJA NO BRASIL.

DATAS IMPORTANTES DA VIDA DE ANCHIETA.

1534 - 19 de Março: Nasceu José de ANCHIETA em San Cristobal de La Laguna, na ilha de Tenerife.

1534 - 7 de Abril: Foi batizado na Igreja paroquial de Nossa Senhora dos Remédios.

1548 - Foi a COIMBRA a fim de cursar humanidades, no Colégio Real das Artes.

1551 - 1 de Maio: Ingressou na Companhia de Jesus.

1553 - 8 de Maio: Pronunciados os 1.os votos religiosos partiu para o Brasil, na III expedição de missionários jesuítas, chefiada pelo Pe. Luiz de Grã.

1553 - 13 de Julho: Chegou à Bahia de todos os Santos.

1553 - Outubro: Partiu para o Sul ena altura dos Abrólhos quase naufragou com os companheiros. Passou pela primeira vez, pela capitania do Espírito Santo.

1553 - Dezembro: Véspera de Natal: Chegou à São Vicente.

1554 - Janeiro: Foi a Piratininga para ser o primeiro mestre do Colégio de São Paulo, fundado a 25/1, dia da conversão de São Paulo.

1561 - Escreve o Poema dos feitos de Mem de Sá.

1562 - 1° Auto "Pregação Universal".

1563 - 5 de Maio: Em companhia do Pe. Manuel de Nóbrega (superior provincial), chegou à Praia de Iperoig (hoje Ubatuba - SP) para negociar o armístico com os confederados Tamoios.

1563 - 21 de Julho: No regresso do Pe. Nóbrega a São Vicente, permaneceu como refém.Compõe o extenso poema em honra de Nossa Senhora.

1563 - 21 de Setembro: Chegou a Bertioga na companhia do índio Cunhambebe.

1565 - 27 de Janeiro: Partiu na expedição de Estácio de Sá, como companheiro do Pe. Gonçalo de Oliveira.

1565 - 1° de Março: Desembarcou na Praia Vermelha, junto ao "Pão de Açúcar"; assistiu à fundação da cidade do RIO DE JANEIRO.

1565 - 31 de Março: Partiu para a Bahia de Todos os Santos, com o fornecedor da esquadra João de Andrada. Esteve então alguns meses no Espírito Santo.

1565 - Julho: Continuou a viagem para ordenar-se Sacerdote, em Salvador.

1566 - 22 de Agosto: Na Bahia,  esteve presente à chegada do Pe. Inácio de Azevedo, enviado pelo R. P. (Reverendo Padre) Geral Francisco de Borja, como Visitador da Companhia de Jesus no Brasil.

1566 - Novembro: Já ordenado Sacerdote, Viajou para o sul em companhia do R. P. Visitador e do Bispo Pedro Leitão, na comitiva do Governador Mem de Sá, que se demorou no Espírito Santo.

1566 - Dezembro: Celebrou as missas de Natal na igreja de São Tiago em Vitória.

1567 - 18 de Janeiro: Na mesma expedição chegou à baía de Guanabara.

1567 - 20 de Janeiro: Assistiu à conquista do Rio de Janeiro. Acompanhou o R. P. visitador, o Pe. Provincial e o Bispo na visita à Capitania de São Vicente. Nomeado Superior em São Vicente. (Começaram então os inúmeros prodígios, que lhe granjearam o titulo de "Xavier da América" e "Taumaturgo do Novo Mundo").

1574 - Festa dos 40 Mártires do Brasil: cancioneiro de Anchieta.

1577 - Auto das Onze-mil-virgens de Colônia: Canção da "Cordeirinha Linda". Foi à Bahia, onde o esperava a patente de Reitor do Colégio, trocada pela de PROVINCIAL em fins deste ano.

1578 - Acompanhou Lourenço da Veiga às aldeias da Bahia.Promoveu a fundação de algumas casas no Espírito Santo. Foi depois a São Vicente, onde estava, a 14 de Agosto.

1579 - 15 de Agosto: Em visita ao Espírito Santo, recebeu uma imagem de Nossa Senhora da Assunção, em Reritiba,com o "auto": "Dia de Assunção".

1585 - Fundou uma residencia em Guarapari, onde construiu uma igreja dedicada a Sant' Ana. Em fim deste ano pediu dispensa do cargo de Provincial, mas não lhe foi concedida. Auto de Guaraparim ou Pirataraka.

1587- Fixou residencia no Espírito Santo, a fim de concluir sua obra do Colégio de São Tiago e da igreja de Reritiba.

1588 - Recebeu a noticia da chegada à Bahia do seu substituto, o novo Provincial, Pe. Marçal Beliarte - Ficou na vila de Vitória como Superior.

1589 - Escreveu e fez representar o Recebimento ou "Diálogode Guaraparim" quando o Pe. Provincial Beliarte visitou a aldeia.

1591 - Recebimento ou Diálogo do Pe. Simões Pereira.

1592 - Como superior da Casa de Vitória, foi à Bahia participar da congregação Provincial. Regressou nomeado Visitador das Casas do Sul (de 1952 a 1954). Foi ao Rio de Janeiro.

1594 - Voltou ao espírito Santo, para assumir o cargo de Superior da Casa de Vitória e governar igualmente as aldeias de Reritiba, Guarapari, Reis Magos e Carapina.

1595 - Na passagem de Provincial Pero Rodrigues pela Vila de Vitória, Anchieta pediu-lhe exoneração do cargo de Superior. Recolheu-se então em Reritiba.

1595 - Recebimento ou Diálogo do Pe. Marcos da Costa e auto de São Maurício.

1596 - Voltou a Vitória para ser conselheiro da Casa e governá-la até que chegasse o Pe. Pedro Soares. Foi ao Cricaré, aonde chegou em 21 de Setembro , dia de São Mateus.

1597 - Maio: Voltou a Reritiba: auto da Visitação.

1597 - 9 de Junho: Faleceu em Reritiba (atual cidade de Anchieta no Espírito Santo), assistido por cinco de seus companheiros, missionários das aldeias vizinhas, após ter recebido, como pediu, o S. Viático e a Extrema Unção.

1597 - 14 de Junho: Seus despojos mortais foram levados a Vitória; nos funerais o Prelado Administrador, Bartolomeu Simões Pereira, no elogio ao defunto, chamou-o de "Apóstolo do Brasil" e "missionário Santo". O cadáver foi enterrado na igreja de São Tiago, anexa ao Colégio da Companhia de Jesus.

1609 - Os ossos de Anchieta foram trasladados para a igreja do Colégio da Bahia por ordem do R. P. Geral Cláudio Acquaviva.

1617 - Com o pedido feito pelos Jesuítas do Brasil, foram iniciados os Processos de Beatificação e Canonização do "SERVO DE DEUS JOSÉ DE ANCHIETA, Sacerdote professo da Companhia de Jesus".

1730 - Remessa, da Bahia, a Roma, dos escritos de Anchieta para serem examinados: entre eles o Livro de Poesias Líricas e Dramáticas.

1736 - 10 de Agosto: O Papa Clemente XII declarou padre Anchieta "VENERÁVEL", por "constar" que suas virtudes foram exercitadas "em grau heróico".

1760 - Quatro ossos de Anchieta foram remetidos ao Marquês de Pombal em Lisboa.

1773 - Suprimida a Ordem dos Jesuítas por ordem do Papa Clemente XIV, foram também suspensos os Processos de beatificação e canonização dos Jesuítas falecidos em conceito de santidade.

Hoje.......

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Ola pessoal, tudo jóia?

Quanto tempo hein? Eu parei de escrever em nosso blog eu sei.

Passei por uma fase de muita ocupação gerenciando um malabarismo entre empresa, trabalho bastante estudos, meu querido filho que está vindo (falta 3 meses) :)

Hoje eu gostaria de lhe convidar para conhecer o recém-publicado Datas Importantes da Vida de Anchieta.

Fruto de muito esforço ainda hoje terminei de escrever, depois de 2 semanas para postar o mesmo. Mesmo assim eu gostaria de ter suas impressões e suas colaborações. Compartilhem!

É isso. :)

Até a próxima postagem ;)

Everton S. da Silva

terça-feira, 13 de agosto de 2013

De que Jesus morreu? A ciência responde.

De que Jesus morreu? A ciência responde.



A revista IstoÉ desta semana traz como matéria de capa "A autópsia de Jesus". E abre a matéria assim: "De duas, uma:
sempre que a ciência se dispõe a estudar as circunstâncias da morte de Jesus Cristo, ou os pesquisadores enveredam pelo ateísmo e repetem conclusões preconcebidas ou se baseiam exclusivamente nos fundamentos teóricos dos textos bíblicos e não chegam a resultados práticos. 

O médico legista americano Frederick Zugibe, um dos mais conceituados peritos criminais em todo o mundo e professor da universidade de Columbia, acaba dequebrar essa regra. Ele dissecou a morte de Jesus com a objetividade científica da medicina, o que lhe assegurou a imparcialidade do estudo. 
Temente a Deus e católico fervoroso, manteve ao longo do trabalho o amor, a devoção e o respeito que Cristo lhe inspira.

Zugibe, 76 anos, juntou ciência e fé e atravessou meio século de sua vida debruçado sobre a questão da verdadeira causa mortis de Jesus. Escreveu três livros e mais de dois mil artigos sobre esse tema, todos publicados em revistas especializadas, nos quais revela como foi a crucificação e quais as conseqüências físicas, do ponto de vista médico, dos flagelos sofridos por Cristo durante as torturantes 18 horas de seu calvário. O interesse pelo assunto surgiu em 1948 quando ele estudava biologia e discordou de um artigo sobre as causas da morte de Jesus. Desde então, não mais deixou de pesquisar e foi reconstituindo com o máximo de fidelidade possível a crucificação de Cristo. 

Nunca faltaram, através dos séculos, hipóteses sobre a causa clínica de sua morte. Jesus morreu antes de ser suspenso na cruz? Morreu no momento em que lhe cravaram uma lança no coração? Morreu de infarto? O médico legista Zugibe é categórico em responder 'não'. E atesta a causa mortis: Jesus morreu de parada cardiorrespiratória decorrente de hemorragia e perda de fluidos corpóreos (choque hipovolêmico), isso combinado com choque traumático decorrente dos castigos físicos a ele infligidos. ...

"O ponto de partida é o Jardim das Oliveiras", prossegue o texto, "quando Jesus se dá conta do sofrimento que se avizinha: condenação, açoitamento e crucificação. Relatos bíblicos revelam que nesse momento 'o seu suor se transformou em gotas de sangue que caíram ao chão'. A descrição (feita pelo apóstolo Lucas, que era médico) condiz, segundo o legista, com o fenômeno da hematidrose, raro na literatura médica, mas que pode ocorrer em indivíduos que estão sob forte stress mental, medo e sensação de pânico. As veias das glândulas sudoríparas se comprimem e depois se rompem, e o sangue mistura-se então ao suor que é expelido pelo corpo. "Fala-se sempre das dores físicas de Jesus, mas o seu tormento e sofrimento mental, segundo o autor, não costumam ser lembrados e reconhecidos pelos cristãos: 'Ele foi vítima de extrema angústia mental e isso drenou e debilitou a sua força física até a exaustão total.' 

Zugibe cita um trecho das escrituras em que um apóstolo escreve: 'Jesus caiu no chão e orou.' Ele observa que isso é uma indicação de sua extrema fraqueza física, já que era incomum um judeu ajoelhar-se durante a oração. A palidez com que Cristo é retratado enquanto está no Jardim das Oliveiras é um reflexo médico de seu medo e angústia: em situações de perigo, o sistema nervoso central é acionado e o fluxo sanguíneo é desviado das regiões periféricas para o cérebro, a fim de aguçar a percepção e permitir maior força aos músculos. É esse desvio do sangue que causa a palidez facial característica associada ao medo. 

Mas esse era ainda somente o começo das 18 horas de tortura. Após a condenação, Jesus é violentamente açoitado por soldados romanos por ordem de Pôncio Pilatos, o prefeito de Judéia. Para descrever com precisão os ferimentos causados pelo açoite, Zugibe pesquisou os tipos de chicotes que eram usados no flagelo dos condenados. Em geral, eles tinham três tiras e cada uma possuía na ponta pedaços de ossos de carneiro ou outros objetos pontiagudos. A conclusão é que Jesus Cristo recebeu 39 chibatadas (o previsto na chamada Lei Mosaica), o que equivale na prática a 117 golpes, já que o chicote tinha três pontas.

As conseqüências médicas de uma surra tão violenta são hemorragias, acúmulo de sangue e líquidos nos pulmões e possível laceração no baço e no fígado. A vítima também sofre tremores e desmaios. 'A vítima era reduzida a uma massa de carne, exaurida e destroçada, ansiando por água', diz o legista." Depois de descrever a dor lancinante causada pela coroa de espinhos, Zugibe afirma que ao chegar ao local de Sua morte, as mãos de Jesus foram pregadas à cruz com pregos de 12,5 centímetros de comprimento. "Esses objetos perfuraram as palmas de Suas mãos, pouco abaixo do polegar, região por onde passam os nervos medianos, que geram muita dor quando feridos. 

Já preso à trave horizontal, Cristo foi suspenso e essa trave, encaixada na estaca vertical. Os pés de Jesus foram pregados na cruz, um ao lado do outro, e não sobrepostos – mais uma vez, ao contrário do que a arte e as imagens representaram ao longo de séculos. Os pregos perfuraram os nervos plantares, causando dores lancinantes e contínuas." Segundo IstoÉ, "a teoria mais propagada é a da morte por asfixia, mas ela jamais foi testada cientificamente. ... Zugibe classifica essa tese de 'indefensável' sob a perspectiva médica. 

Os exemplos do Exército ou do campo de concentração não valem porque os prisioneiros eram suspensos com os braços diretamente acima da cabeça e as pernas ficavam soltas no ar. Não é possível comparar isso à crucificação, na qual o condenado é suspenso pelos braços num ângulo de 65 a 70 graus do corpo e tem os pés presos à cruz, o que lhe dá alguma sustentação. Experimentos feitos com voluntários atados com os braços para o alto da cabeça mostraram que, em poucos minutos, eles ficaram com capacidade vital diminuída, pressão sangüínea em queda e aumento na pulsação. 

O radiologista austríaco Ulrich Moedder [afirma] que esses voluntários não suportariam mais de seis minutos naquela posição sem descansar. Pois bem, Jesus passou horas na cruz." A revista constata que "Zugibe usa sempre letras maiúsculas nos pronomes que se referem a Jesus e se vale de citações bíblicas revelando a sua fé. Indagado por IstoÉ sobre a sua religiosidade, ele diz que os seus estudos aumentaram a sua crença em Deus: 'Depois de realizar os meus experimentos, eu fui às escrituras. É espantosa a precisão das informações.' Ao final dessa viagem ao calvário, Zugibe faz o que chama de 'sumário da reconstituição forense'. E chega à definitiva causa mortis de Jesus, em sua científica opinião: 'Parada cardíaca e respiratória, em razão de choque traumático e hipovolêmico, resultante da crucificação.'"
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