// Estar com Deus: setembro 2019

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

O que Tomás de Aquino pode nos ensinar sobre o consumismo


O que Tomás de Aquino diria sobre o consumismo? 
Com um pouco de imaginação e algumas referências à Summa Theologiae (Suma teológica), podemos compreender melhor a loucura pelo dinheiro em nossa sociedade, segundo a análise que o grande teólogo faz do pecado capital da gula. 

Tomás de Aquino discute cinco dimensões do pecado da gula:


Ardenter – ansioso: Minha mãe costumava dizer: “Esse dinheiro está queimando no bolso!” Corremos para as lojas como se os melhores ou os únicos bens pudessem ser encontrados lá. Nada que podemos comprar pode durar; nada que compramos satisfará nossas almas – então, por que a pressa?

Praepropere – precipitado (a primeira forma de devassidão): essa é a ilusão sedutora do “Compre agora, pague depois!” Essa é a armadilha do cartão de crédito – usá-lo para comprar agora e deixar para pagar depois, quando não se pode.

Laute – dispendioso (a segunda forma de devassidão): esta é uma forma de desperdício. Não se endividou, mas se gastou muito em relação a outras obrigações. Para uma pessoa consumista, “bom o suficiente” nunca é “bom o suficiente”.

Nimis – em grande parte do tempo (a terceira forma da devassidão): isso é a “terapia das compras” ou comprar como hobby. Aqui se é consumido pelo consumo. 

Studiose – consumindo de forma muito detalhista: entra aqui o logotipo como símbolo de status; a marca como uma medida do nosso valor. Quando a identidade e o valor da pessoa não estão enraizados no espiritual, falta um sentimento de pertença. Consequentemente, surge uma estratégia (às vezes uma estratégia consciente, às vezes não) para nos adornar com os símbolos de uma marca cobiçada. Pode significar falta de valorização pessoal.

Os termos de Tomás de Aquino podem não ser familiares. E essa adaptação pode soar estranha. Mas vejamos um exemplo de excesso de consumismo: hoje se pode até contratar um “consultor de closet” para aconselhá-lo a reorganizar seu armário para abrir espaço para mais coisas.

Não seria sinal de um vício? Não seria um indicador de que estamos desesperadamente infelizes e não sabemos por quê? Que fome estamos tentando alimentar? Quão profunda é o vazio que estamos tentando preencher?

Deus fala através do profeta Isaías: “Por que gastar dinheiro naquilo que não é pão e o seu trabalho árduo naquilo que não satisfaz? Escutem, escutem-me, e comam o que é bom, e a alma de vocês se deliciará na mais fina refeição.” Essa é a chave, não é? Construímos uma economia, uma cultura e uma mania de consumir bens materiais para satisfazer a fome espiritual. Isso nunca vai funcionar.

O que fazer? Bem, podemos falar sobre desejos versus necessidades – isso não é ruim, mas não é suficiente. Isso só aborda a dimensão material. Precisamos de um senso adequado de prioridades. O filósofo Kierkegaard disse: “O que é relativo deve ser tratado relativamente; o que é absoluto deve ser tratado absolutamente”. O único absoluto é Deus. Temos de limpar o altar de nossos corações para encontrar o único digno de adoração, o único bem que pode satisfazer nossos corações e completar nossas vidas.
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